A perfeição do retrato de Gertrude Käsebier
Você já ouviu falar de Gertrude Käsebier? Pois bem, ela foi não apenas uma grande fotógrafa retratista, mas também uma das grandes fomentadoras da fotografia entre as mulheres.
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Mas, chega de papo e vamos lá!
Fotografia a qualquer custo
Gertrude Käsebier nasceu em 1852, em Des Moines, Iowa, mas logo mudou para o Colorado, onde o pai tinha uma serraria, no início da corrida do ouro.
Foi lá, no oeste bravio, que ela desenvolveu interesse e afeição pelos nativos americanos.
Ela sempre fazia visitas para eles e, quando mudou para Nova York, começou a acompanhar o “Show do oeste selvagem do Buffalo Bill” - uma espécie de circo itinerante que reproduzia cenas de lutas no velho oeste - para fazer retratos dos nativos americanos.
Paralelo a isso ela tinha também um estúdio na Quinta Avenida, onde havia pensado em trabalhar associada às belas-artes, mas dizia que o processo de pintura era muito lento e que a fotografia permitia um imediatismo mais realista para ela.
Só que a fotografia naquela época não era tida como uma expressão artística no mesmo patamar da pintura e a sociedade desaprovava que as mulheres estivessem à frente de qualquer tipo de negócio.
Inclusive, quando foi questionada sobre fotografar ao invés de pintar, ela disse: "Depois que meus bebês nasceram eu decidi aprender a usar o pincel. Queria guardar seus lindos rostinhos de bebê. Então fui para uma escola de artes, mas a arte é longa e a infância é passageira e as crianças estavam perdendo seus rostos de bebê antes de eu aprender a pintar retratos, então escolhi um meio mais rápido."
Mas esse não era apenas um discurso de desejo materno. Käsebier conhecia muito bem o pensamento da sociedade da época em que ela vivia e essa fala soou aos ouvidos machistas do final do século XIX, como uma legitimação.
Foi algo no estilo: Ok, é uma mãe querendo fazer fotos dos filhos, isso nós podemos tolerar.
Com isso ela se tornou querida pelas mulheres e pode transitar e se envolver com pessoas que não eram parte da sua família, porque até isso não era bem visto naquela época: uma mulher frequentando casas de outras pessoas.
Incentivo à outras mulheres
Além disso, ela também incentivou outras mulheres a seguirem a profissão de fotografia, porque defendia que as mulheres precisavam ter renda própria ao invés de só depender dos maridos.
Uma das mulheres que ela apoiou foi Frances Benjamin Johnston, considerada uma das maiores - e primeiras - fotojornalistas americanas, tendo trabalhado nessa área por mais de meio século.
Mas a carreira de Gertrude Käsebier na fotografia não começou fácil. Enquanto estudava em um instituto de artes do Brooklyn, ela fez um retrato de uma jovem contra a luz e inscreveu em um prêmio, e quando a foto foi premiada, os próprios professores dela a criticaram, porque a fotografia não era considerada uma arte legítima.
Mas ainda assim ela seguiu fotografando e logo publicou em uma revista uma série de fotos que fez durante uma viagem pela Europa.
Fotografia como profissão
Ela foi assumir a fotografia integralmente, como profissão, em 1895, quando o marido dela ficou doente e ela iniciou na fotografia de retratos para equilibrar as finanças da família.
Nesse período ela criou 150 retratos de jovens socialites do Brooklyn no estilo das pinturas clássicas dos grandes mestres.
Foi nessa época que ela abriu o estúdio na Quinta Avenida e começou a trabalhar com a fotografia de conceito mais artístico junto com o trabalho de retratos comerciais.
E para fugir da ira da sociedade conservadora, ela divulgava o estúdio apenas o suficiente para alertar clientes em potenciais, mas não tanto a ponto de parecer um lugar comercial.
Talento em ascensão
Em 1898 ela conseguiu um importante apoio do fotógrafo Alfred Stieglitz, que foi o primeiro fotógrafo a ter seu trabalho exposto em um museu, o que fez com que - ao menos no meio da fotografia e das artes - ela fosse reconhecida como um talento em ascensão.
Com isso ela conseguiu participar de salões de artes fotográficas, expor seu trabalho em clubes de arte e de fotografia e publicar suas fotos em revistas.
Aliás, ela se especializou tanto e seus retratos eram tão perfeitos que ela era conhecida como a fotógrafa das pessoas importantes, tendo fotografado artistas, empresários e diretores de universidades, que eram a elite da época.
Retratos dos nativos americanos
Com essa carta na manga, de conhecer pessoas importantes, expor e publicar os seus trabalhos como arte, ela encampou seu primeiro projeto, que era fotografar os nativos americanos - que eu citei aqui no começo desse texto.
Sendo amiga do Buffalo Bill, ela recebia em seu estúdio os indígenas que participavam do show do oeste selvagem e fazia retratos deles. E em janeiro de 1901 a revista Everybody’s publicou essa série.
A foto mais famosa destas sessões é O homem Vermelho, um retrato de um nativo americano do povo Sioux, chamado Bears One, que hoje faz parte da Biblioteca Nacional do Congresso Americano, onde estão guardadas várias das principais obras americanas de todos os tempos.
Além disso, ela fotografou cenas do cotidiano e retratos para publicidade, revistas e até cenas representadas, para revistas ilustradas que traziam histórias contadas em fotos - naquele estilo fotonovela, sabe?
E ela também dava vazão à sua veia artística, trabalhando as fotos após a ampliação do negativo, para publicar com traços pictorialistas, criando um estilo próprio de arte.
Legado
Gertrude Käsebier morreu em 1934 e deixou um legado não só da fotografia de retrato e artística, mas da celebração da independência feminina através da fotografia.
E é isso pessoal. Espero que vocês tenham curtido esse conteúdo e fiquem ligados que em breve eu volto com mais nessa pré-temporada do podcast.
Fiquem bem, até a próxima. Ciao!
Links de pesquisa utilizados neste episódio
Links para trabalhos de Gertrude Käsebier
Henry Milleo
Fotógrafo
Editor de Fotografia
Criador do Podcast Arquivo Raw
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