A Inteligência Artificial vai acabar com a fotografia?
O tema desse segundo episódio veio da indicação de alguns ouvintes.
Roteiro
Temporada: 003
Episódio: 002
Gravação: Henry Milleo
Locução: Henry Milleo
<FADE IN
ENTRA MÚSICA
MÚSICA DESCE>
Olá pessoal, sejam bem-vindos.
Esse aqui é o Arquivo Raw, um podcast para falar sobre fotografia.
Eu sou Henry Milleo, sou fotógrafo e editor de fotografia e também host dessa coisa toda aqui.
E hoje o tema é Inteligência Artificial.
Esse é um tema que eu já havia colocado lá na planilha de temas que eu tenho para o Podcast e que estava previsto para gravar mais para frente, mas como também foi um tema que dois ouvintes enviaram como sugestão - e a ideia disso daqui é trabalhar com essa interação com vocês que me ouvem - eu resolvi adiantar a produção desse episódio.
Mas, antes de começar, eu preciso fazer uns reclames aqui e pedir para vocês deixarem a sua indicação de tema para os próximos episódios, para seguirem o Arquivo Raw no instagram: arroba arquivo underline raw, para compartilhar esse episódio nas suas redes - mande para aquele amigo que você acha que vai se interessar -
E também, se puderem colaborem ouvindo o episódio lá na Orelo: orelo.cc/arquivoraw. A Orelo paga aos produtores de conteúdo por cada episódio ouvido na plataforma deles. Não é muito, é coisa de centavos, mas no final já ajuda a manter o podcast no ar. Além disso, vários outros programas de podcast estão lá, então de alguma forma você está ajudando a manter no ar os programas que você gosta. Até porque dá trabalho fazer tudo isso aqui.
Se quiser ajudar um pouco mais você pode enviar um pix com qualquer valor para a chave que está na descrição desse episódio, ou visitar a loja lá em henry milleo ponto com ponto BR e adquirir um dos produtos.
E é isso. Recados dados, vamos ao episódio.
<ENCERRA MÚSICA E ENTRA VINHETA
ENCERRA VINHETA E MÚSICA VOLTA>
A questão que motivou esse episódio foi: a Inteligência Artificial vai acabar com a fotografia?
Bem. Para chegar nessa resposta vamos começar pelo básico que é entender o que é a inteligência artificial.
E como eu não sou nenhum engenheiro de software ou cientista da computação, eu simplifiquei ao máximo essa definição mas, basicamente, a inteligência artificial é um programa, que tem um algoritmo, que acessa um banco de dados e quando você digita lá: imagem de uma praia, com palmeiras e pôr do sol, ela busca referências disso no banco de dados e traz uma imagem com isso.
Mas ela não é prefeita. Eu testei algumas plataformas aqui para produzir esse episódio e tive resultados de pessoas com 12 dedos, imagens encavaladas e paisagens que ficam um tanto quanto surreais, parecem mais a representação visual de um sonho onírico do que realmente uma fotografia.
Mas é bem impressionante ver o resultado e saber que esse é o início de algo.
Mas isso pode substituir o fotógrafo?
Eu não creio nisso.
Veja bem.
Sempre que uma nova tecnologia aparece e que é usada para facilitar ou otimizar algo, alguma coisa muda. Ou ela é incrementada ou substituída.
E na fotografia a gente já teve algumas grandes mudanças.
Os equipamentos digitais, por exemplo. Eles substituíram por completo a fotografia comercial feita com película.
E a fotografia digital substituiu a película ao ponto de hoje você dividir os termos em fotografia e fotografia analógica, enquanto lá no começo, no surgimento dos equipamentos digitais, a gente falava fotografia e fotografia digital.
E quem ainda hoje fotografa com filme - eu incluso - faz isso por paixão, por processo artístico, por aprofundamento na aprendizagem da fotografia, por moda, por hobbie, enfim. Algo nesse sentido.
Mas aqui foi uma substituição técnica, de equipamento. A fotografia não deixou de existir.
Claro que teve quem perdeu com isso. As indústrias de produção de filmes, que diminuiram essa produção, o que causou um aumento de preço considerável.
A oferta de também foi afetada. Se antes era possível comprar um rolo de filme em praticamente em qualquer bodega, hoje é preciso garimpar bastante.
Além de vários ofícios de fotografia, que também deixaram de ser necessários.
Fotos 3x4 para documentos, por exemplo: hoje você vai renovar a CNH, ou fazer o passaporte e não precisa levar uma foto, ela é feita lá - de qualquer jeito, fica tudo uma droga - mas é feita lá.
E na esteira disso vários estúdios e laboratórios menores - e até alguns grandes - que viviam de vender e fazer fotos e ampliações, acabaram por fechar as portas ou diminuir o seu volume de trabalho.
Então tem isso. A simples adição de tecnologia em um equipamento que para os fotógrafos foi uma mão na roda em questão de tempo e de produção, acabou por ser o fim de algumas áreas e empresas.
Já na questão da IA é algo diferente, porque a pergunta aqui não é o uso disso atrelado à fotografia, mas a substituição da fotografia pela geração de imagem automática.
Eu não sou fã desse processo. Acho que isso é algo preguiçoso. É só alguém sentado em frente ao computador digitando o que quer para conseguir algo parecido com o que buscava.
Claro que é impressionante se você pensar pelo viés de um programa de computador que vai aprendendo e melhorando e isso é algo que provavelmente vai ficar realmente bom em um futuro bem próximo, mas mesmo assim, mesmo que fique perfeito, eu não vejo como isso vá substituir a fotografia comercial.
Eu vou tomar, por exemplo, os assignment, as encomendas de trabalho para fotógrafos.
E para ilustrar isso vamos voltar um pouco no tempo.
Digamos que uma publicação - não jornalística - precisava de uma foto de uma torre de energia, para ilustrar um trabalho. O que se fazia era contratar um fotógrafo, mandar ele para um lugar X para produzir essa imagem e trazer de volta. E isso tinha um custo, que não era barato.
Quando os bancos de imagem surgiram, como Getty, iStock, Stock Photos e outros, a diferença era entre investir um valor em tempo e dinheiro para ter essa foto - e ter essa foto dali, sei lá, 15 dias, uma semana - ou fazer um download instantâneo por uns 30, 40 dólares.
Não havia a menor possibilidade de concorrência para os fotógrafos nesse caso. Então, ao invés de esperar os contratos, boa parte dos profissionais que trabalhavam nesse sistema, começaram a produzir por conta e distribuir nos bancos de imagem, esperando ganhar por comissão na quantidade de vendas. Ganhar por volume e não por contrato.
Mas aí surge agora a inteligência artificial - que ainda não é perfeita - mas que gera um custo muito mais baixo para designers e publicações que não são jornalísticas - e aqui eu cito publicações não jornalísticas partindo do preceito que o jornalismo é regido por algumas leis específicas e por um código de ética que, espero, seja cumprido, não criando imagens falsas para ilustrar fatos verdadeiros - papo para aprofundar em outro episódio.
Mas voltando para o exemplo da torre de energia: qual seria a melhor solução para essa publicação que precisa da foto, em se tratando de custo?
Mandar um fotógrafo fazer uma foto de uma torre de energia, comprar uma foto de uma torre de energia, ou gerar uma foto de uma torre de energia?
Isso não quer dizer que a fotografia de banco de imagens vai acabar assim, em um estalar de dedos, até porque teve fotógrafo que não perdeu tanto os contratos com o surgimento dos bancos de imagem. Foram os fotógrafos que trabalham em nichos específicos. Fotos de retrato, de celebridades, de produtos exclusivos, fotógrafos de arquitetura, de mercado imobiliário voltado para construção, enfim… nichos realmente específicos.
Mas é claro que os fotógrafos que trabalham comercialmente dessa forma, distribuindo material genérico em bancos de imagens, vão precisar repensar seu modelo de trabalho, procurar por modos de trabalho que não são tão fáceis de serem substituídos.
Mas eu não posso prever o futuro, essa é a minha opinião de como eu vejo as coisas hoje.
A inteligência artificial precisa ser alimentada com algo e, ao mesmo tempo, ela não é criativa. A criatividade é algo inerente à natureza humana.
Se você pegar pelo viés da arte. A arte é uma representação de quem o artista é, da sociedade onde ele está inserido, da história de vida dele, do ponto histórico onde ele está, da controvérsia, dos dilemas, das alegrias deste artista. Uma inteligência artificial pode mimetizar o que seria um Van Gogh, mas não vai ser um Van Gogh.
E eu sei que eu estava falando de fotografia comercial e agora já enveredei para a arte, mas é que esse espírito que é inerente ao ser humano, de criar, de ser criativo, de construir algo, está presente em todo tipo de comunicação visual. Seja ela boa ou ruim. E, acredite, na fotografia tem muito mais coisa ruim do que boa por aí hoje em dia.
Então para finalizar eu preciso dizer que eu testei mesmo algumas dessas ferramentas de IA e que eu não tenho absolutamente nenhum interesse nelas. Ao meu modo de ver não passa de entretenimento e eu não acredito que ela vai ser uma grande ameaça para a fotografia, pelo menos não da forma como eu vejo as aplicações práticas dela nesse momento.
E é claro que no futuro ela pode se tornar realmente boa, mas mesmo assim eu não acredito na substituição da fotografia por uma imagem gerada por inteligência artificial, ao menos não na maioria dos campos.
Você pode perder a fatia do teu negócio que é fotografar tomate com fundo branco, mas não vai perder o nicho de casamento, de evento, de jornalismo, enfim. Esses que não podem ser criados digitalmente. A IA não vai simular a cerimônia de casamento do João com a Maria. Eles vão precisar de um fotógrafo.
Mas, deixe a sua opinião sobre o assunto, mande uma mensagem no instagram. Eu quero saber o que vocês pensam ou mesmo se já testaram essas ferramentas e qual o resultado que receberam.
<SOBE MÚSICA
DESCE MÚSICA>
E é isso pessoal.
Comente dizendo o que achou desse episódio e deixe a sua indicação de tema para os próximos.
Sigam o Arquivo Raw no Instagram: arroba arquivo underline raw, compartilhem esse episódio, se puderem colaborem ouvindo o episódio lá na Orelo: orelo.cc/arquivoraw.
Se quiser ajudar um pouco mais você pode enviar um pix com qualquer valor para a chave que está na descrição desse episódio, ou visitar a loja lá em henrymilleo.com.br e adquirir um dos produtos, porque toda essa verba vai para a manutenção do podcast.
E me sigam também no Instagram @henrymilleo.
<SOBE MÚSICA
DESCE MÚSICA>
Esse episódio usou trilha do Podcast.co.
Até a próxima semana. Fiquem bem. Ciao!
<SOBE MÚSICA
FADE OUT
ENCERRA>
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