Eu gosto de fotozines pela iniciativa que os fotógrafos têm em produzi-los.
Quando um fotógrafo toma para si a tarefa de produzir uma publicação, isso é algo que eu respeito e pelo qual eu tenho interesse.
Roteiro
Temporada: 003
Episódio: 008
Gravação: Henry Milleo
Locução: Henry Milleo
<FADE IN
ENTRA MÚSICA
MÚSICA DESCE>
Olá pessoal. Sejam bem-vindos a mais um episódio do Arquivo Raw, um podcast para falar de fotografia. Eu sou Henry Milleo, sou fotógrafo e editor de fotografia e também host disso tudo aqui.
E se você acompanha aqui o Arquivo Raw e já escutou o episódio sobre livros de fotografia, já sabe que eu contei lá que eu já tive uma editora especializada na publicação de fotolivros.
Mas o que você não sabe - por que eu ainda não contei - é que essa editora surgiu de uma outra. Um projeto de publicações de fotozines - que, na verdade, eu continuo publicando de forma autoral até hoje. Boa parte do meu trabalho, das minhas séries ou projetos fotográficos, sejam eles pequenos ou grandes, eu já produzi fotozines.
Mas, enfim. Seguindo em frente: E eu sei que na grande maioria dos episódios eu sempre digo: esse é um dos meus assuntos favoritos na fotografia. E é até um pouco óbvio, porque como sou eu que produzo tudo isso aqui e eu ainda não comecei a receber indicações de temas em um volume considerável, eu acabo por abordar assuntos que eu gosto.
Mas esse assunto de hoje tem toda a minha atenção. Se tem algo que é meu objeto de desejo na fotografia, é o fotozine.
E eu já vou explicar aqui o porquê, mas antes os recados.
Como de praxe eu quero pedir para você seguir o Arquivo Raw lá no Instagram, que é @arquivo_raw. Para deixar dicas de temas para os próximos episódios e para compartilhar o podcast com os amigos e conhecidos que você sabe que se interessam por fotografia.
E também pedir para – se possível – você ouvir o podcast lá na Orelo, que é orelo.cc/arquivoraw. A Orelo remunera os produtores de conteúdo a cada episódio ouvido lá na plataforma deles. Não é muito, é coisa de centavos, mas no final já ajuda a manter isso aqui no ar.
E, se quiser ajudar de forma mais direta, você também pode fazer um pix com qualquer quantia para a chave que está aqui na descrição desse episódio.
Dito isso, vamos ao episódio.
<ENCERRA MÚSICA E ENTRA VINHETA
ENCERRA VINHETA E MÚSICA VOLTA>
Bem, antes de eu falar sobre o porquê eu gosto de fotozines, deixa eu dar um apanhado geral aqui sobre o que é isso.
Basicamente um fotozine é uma forma de publicação fotográfica independente. É um fotolivro artesanal, tradicionalmente feito em casa e geralmente produzido em pequenas quantidades.
E é um tipo de publicação que veio do fanzine, que eram revistas artesanais do cenário alternativo, com conteúdo sobre cinema, literatura e música. Era uma forma dos artistas independentes e marginais divulgarem seu trabalho e se conectarem com o público, subvertendo o mercado editorial, sem depender do mainstream das grandes publicações.
Daí na década de 70 o movimento Punk abraçou essa ideia e essas revistas artesanais se tornaram parte fundamental no compartilhamento de ideias e ideologias da época. E eram tão importantes que até as bandas e músicos criavam suas próprias publicações. The Clash, Dead Kennedys e Black Flag são algumas dessas bandas que mandavam seus próprios zines.
Aliás, só por curiosidade, tem um fanzine da Maximum Rocknroll, que foi lançado em 1982, nos Estados Unidos, que é considerado um dos mais longevos e influentes da cena punk mundial, com mais de 400 edições publicadas. Ele já parou de ser publicado impresso, mas no site da MRR tem ainda uma versão digital que continua rolando até hoje e também uma biblioteca que dá para acessar - se não todas - boa parte das revistas. Se tu curte música, vale a pena dar uma sacada lá.
Voltando… Eu não consegui descobrir uma data de início das publicações de fotozines, mas há um consenso que uma das primeiras publicações neste formato foi o Manipulator, publicado pelo artista Robert Heinecken, que fazia experimentações com a fotografia, fazendo colagens, sobreposições e outras formas de manipulação.
Foi nesse cenário, nessa efervescência cultural de divulgar suas próprias ideias e trabalhos, sem precisar se sujeitar às publicações oficiais ou tradicionais, que surgiram os fotozines.
Acho que os fotógrafos da época, que tiveram acesso a esse material alternativo dos artistas devem ter visto aquilo e pensado: Peraí. Dá para fazer uma coisa bacana com isso aqui na fotografia também.
E isso acabou se espalhando e hoje a gente tem um cenário muito bacana de fotozines. Quer dizer. Um cenário bem bacana fora do Brasil. Aqui a coisa está mais no início, mas já tem muita gente mandando seus fotozines, principalmente na última década. E tem coisa muito interessante rolando.
O fato é que lá fora, na Europa e nos Estados Unidos, essa ideia de publicações artesanais de fotografia já vem rolando desde a década de 70, tendo picos de maior ou menor produção de tempos em tempos, mas é quase uma obrigatoriedade para os fotógrafos por lá a ideia de produzirem seus zines e materializar seus trabalhos.
Existem até festivais de fotozines, com encontros, palestras, trocas e vendas. Também existem livrarias especializadas na comercialização das publicações e tem até livrarias especializadas em encontrar, adquirir e vender fotozines raros e colecionáveis.
Tem até editora especializada em publicar fotozines, como a Little Brown Mushroom, do fotógrafo Alec Soth, que é fotógrafo da Magnum e que publica constantemente seu trabalho em forma de zine, a Pau Wau Publications, a Self Publish Be Happy, a Little Big Man Books, a Tour Dogs e a Cafe Royal Books, que está para os fotozines como a Steidl está para os fotolivros. Aliás, a Cafe Royal Books já publicou trabalhos até do Martin Parr, que é outro aficionado por zines e que, dizem, tem uma das maiores coleções de fotozines do mundo.
Para você ter uma ideia, o fotozine do Martin Parr chamado "Bad Weather", foi publicado originalmente em 1982 pela Cafe Royal Books, em uma edição limitada de apenas 500 cópias e hoje esse é um dos fotozines mais valiosos que se tem notícia.
Existem algumas reedições desse zine, com algumas variações na capa e na tiragem, mas a edição original de 500 cópias continua sendo a mais rara e cobiçada pelos colecionadores. Na última pesquisa que eu fiz eu encontrei uma cópia por mais de mil reais.
Eu nunca peguei em minhas mãos uma edição da Cafe Royal Books. Mas eu tenho amigos fotógrafos lá na Europa que tem acesso à isso muito mais fácil, e que já me disseram que a qualidade de impressão é como um xerox 2.0. Então o fotozine permite uma liberdade maior tanto em qualidade de impressão quanto de montagem.
Todo o conceito do material que você vai apresentar precisa funcionar com a qualidade de impressão que você tem, é claro. E se você quer uma qualidade de impressão ótima, você leva isso para uma gráfica, ou compra uma impressora que seja realmente boa. Mas ele permite que não seja necessariamente perfeito.
Então, finalmente respondendo a questão:
Eu gosto de fotozines pela iniciativa que os fotógrafos têm em produzi-los. Produzir um livro de fotografias no Brasil não é barato. Acho que fora do Brasil também não deve ser, mas aqui, a gente sabe que a nossa economia não é das melhores, então sempre foi muito caro.
Então quando um fotógrafo toma para si a tarefa de produzir - seja artesanalmente, seja impresso em gráficas, mesmo em pequena quantidade - mas que ele toma para si a tarefa de produzir uma publicação, isso é algo que eu respeito e pelo qual eu tenho interesse.
Dos meus fotozines eu já fiz impresso em gráfica digital, já fiz fotozine impresso em gráfica offset e já fiz fotozine impresso em casa, inclusive. Que é o jeito que eu mais gosto de fazer. Porque assim eu tenho um maior controle sobre a produção em todas as suas etapas.
Eu posso controlar a impressão, posso usar papéis diferentes daqueles que eu encontro em gráfica, porque a maioria das gráficas aqui trabalham apenas com papel offset, que é o sulfite e o couchê, fosco ou brilhante.
E as gráficas que trabalham com outros tipos de papéis acabam sendo muito mais caras, o que descaracteriza a ideia do fotozine, que é criar uma maneira de trazer o seu trabalho para um suporte físico mas manter os custos relativamente baixos.
Então eu considero o fotozine como uma ferramenta importante para o próprio processo criativo do fotógrafo, permitindo que ele experimente diferentes formas de organização e edição das suas imagens, bem como tenha um retorno mais direto do público sobre o seu trabalho. É uma oportunidade para o fotógrafo se expressar de forma mais livre e espontânea, sem a pressão das expectativas do mercado editorial ou das demandas do cliente.
E mantendo a tiragem limitada, você não fica em casa com um calhamaço de livros que precisa desovar logo.
Eu, por exemplo, sempre mantenho a tiragem de 10 exemplares por edição, com no máximo 3 edições, o que fecham 30 exemplares no final.
Talvez a falta de um cenário mais abundante desse tipo de publicação no Brasil seja mesmo a falta de conhecimento ou de incentivo. Muitos fotógrafos ainda não conhecem o conceito de fotozine, ou acham que é uma coisa amadora, ou só marginal, ou só não sabem que existe essa possibilidade.
Mas pode ser pela falta de incentivo e cultura da própria publicação de fotolivros também, ou os custos de publicação de livros de fotografia que acabam influenciando na ideia de que um fotozine seria uma coisa menor, por ter uma tiragem limitada, por ser artesanal, ou por ter um alcance menor.
O fato é que se você é fotógrafo e tem lá seu trabalho autoral, você deveria mesmo considerar publicar um fotozine.
E, se não souber como fazer ou precisar de ajuda, manda uma mensagem, porque eu também trabalho ajudando fotógrafos a desenvolver esse tipo de projeto - tenho que vender aqui meu peixe também, não é.
Mas, para finalizar, eu quero dizer que se você já tem, está montando ou já teve uma publicação assim, manda uma mensagem no Instagram do Arquivo Raw. Vamos trocar uma ideia e, quem sabe, não criamos uma comunidade de aficionados por fotozines.
E, se quiser me mandar um exemplar do seu fotozine, fique a vontade também. Eu vou adorar receber e colocar na minha coleção.
<SOBE MÚSICA
DESCE MÚSICA>
E é isso. Espero que vocês tenham gostado desse episódio. Vou reforçar aqui para que você mande dicas de temas para os próximos e para seguir o Arquivo Raw lá no Instagram.
Aliás, se quiser mandar mensagem de áudio por lá também, fique à vontade. Pode ser que ela entre em algum episódio futuro aqui do podcast.
E me sigam também no Instagram @henrymilleo.
Esse episódio teve trilha do Podcast.co.
Até a próxima. Fiquem bem. Ciao.
<SOBE MÚSICA
FADE OUT
ENCERRA>
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