Se você pensa que o fotógrafo deve estar sempre com sua câmera, sempre pronto para disparar, pense de novo. Deixar a câmera guardada ou não fotografar, não faz de você menos fotógrafo e pode, inclusive, indicar uma evolução sua enquanto fotógrafo.
Roteiro
Temporada: 003
Episódio: 010
Gravação: Henry Milleo
Locução: Henry Milleo
Convidado: Hamilton Zambiancki
<FADE IN
ENTRA MÚSICA
MÚSICA DESCE>
Olá pessoal, Estamos começando mais um episódio do arquivo, o podcast para falar de fotografia. Eu sou o Henry Milleo, sou fotógrafo e editor de fotografia e também host disso tudo aqui.
E eu queria dizer que essa temporada do Arquivo Raw está chegando ao fim. Este é o último episódio da temporada.
Foram dez no total, onde a gente tratou de temas que vão desde a simplicidade da fotografia até exposição de fotografias, passando por fotojornalismo, fotozine, fotolivros…, enfim, uma gama de assuntos bem bacanas.
E eu curti muito fazer isso daqui – espero que você tenha curtido também –, mas nesse momento eu preciso fazer essa pausa justamente para pegar os novos temas, produzir os novos episódios, fazer as pesquisas, os roteiros… E também pra dar atenção aos outros projetos, outros trabalhos que eu tenho, porque eu não vivo de podcast. Isso daqui, na verdade, ele nem se sustenta por enquanto.
Por isso eu preciso dar atenção e focar nesses outros projetos que eu tenho.
Mas vai ser uma pausa rápida, eu prometo, e logo, logo eu estou de volta.
E pra quem acompanha o Arquivo Raw há mais tempo, ou mesmo para quem teve curiosidade de dar um scroll na tela e ver que tem muitos episódios ali além desses dez desta temporada, vocês já perceberam que o Arquivo Raw teve uma primeira fase onde eu e o Hamilton Zambiancki fazíamos a apresentação em conjunto. E que agora, nessa terceira temporada, eu estou fazendo esse solocast.
Mas como hoje é o último episódio, eu pensei: vou conversar com o Hamilton de novo. Então o Hamilton está aqui para participar desse episódio com a gente e eu vou pedir para ele dar um oi para vocês, diz oi aí par ao pessoal, Hamilton
Hamilton Zambiancki
E aí, meu caro Henry Milleo? E aí, pessoal? É um prazer estar aqui de novo, fazendo parte de mais um episódio aqui do Arquivo Raw, e Bora Lá.
Henry Milleo
Antes do ‘bora lá’, Hamilton eu preciso dar uns recados aqui.
Quero pedir para você seguir o Arquivo Raw no Instagram, que é @arquivo_raw, para você mandar a sua sugestão de tema para os próximos episódios e para você divulgar o Arquivo Raw. Manda para aquele seu amigo que você sabe que se interessa por fotografia, porque quanto mais pessoas ouvirem, mais a comunidade cresce, mais isso daqui cresce e mais longe a gente consegue chegar.
E também, se possível, que você ouça os episódios lá na Orelo, que é orelo.cc/arquivoraw. Porque a orelo remunera os produtores de conteúdo a cada episódio ouvido na plataforma deles. Não é muito, é coisa de centavos, mas já ajuda a manter isso aqui no ar.
E se você quiser ajudar de uma forma um pouco mais direta, você também pode mandar um pix com qualquer valor para chave que está na descrição desse episódio, ok?
Dito isso, agora sim, ‘bora lá”!
<ENCERRA MÚSICA E ENTRA VINHETA
ENCERRA VINHETA E MÚSICA VOLTA>
E o tema desse episódio – hoje ele é um pouco mais freestyle – mas ele veio de uma conversa que eu estava tendo com Hamilton esses tempos atrás, e de uma mensagem que ele me mandou dizendo que ele estava fotografando menos.
Que antigamente ele carregava a câmera dele para tudo quanto é lugar, fazia várias fotos. Depois começou a ser mais seletivo, não levava a câmera sempre, e que agora ele só leva a câmera se realmente for fazer algum tipo de foto, se ele for fazer algum trabalho fotográfico.
E foi isso que me atraiu nessa mensagem, porque o Hamilton finalizou dizendo que ele acreditava que isso era uma evolução dele enquanto fotógrafo, esse ser mais seletivo no que vai fotografar ou não.
E eu sei que muita gente diz por aí que o fotógrafo tem que carregar sua câmera o tempo todo, tem que fotografar o tempo todo. Eu mesmo já fiz isso durante muitos anos, principalmente no início de carreira – eu ia comprar pão na esquina, eu levava a câmera para não ser pego desprevenido.
Mas foi isso que motivou essa nossa conversa de hoje, que é: você precisa fotografar tudo o tempo todo?
E eu queria – já que foi você quem mandou a mensagem e desencadeou essa conversa aqui, Hamilton. Queria que você discorresse um pouco, que você comentasse sobre essa sua ideia de não querer mais fotografar tanto quanto fotografava antes.
Hamilton Zambiancki
Então, eu acho que o fotógrafo não precisa fotografar tudo e em todo momento eu acho que é realmente uma evolução do fotógrafo. E quando eu falo na evolução do fotógrafo, eu não quero dizer que é uma evolução da fotografia, mas do fotógrafo em si, da pessoa, sabe? Porque a partir do momento em que você começa a agir dessa forma, não fotografando, tudo significa que você está se tornando um fotógrafo mais seletivo, e isso faz com que você produza materiais mais consistentes, mais densos, um material com mais qualidade. Além, é claro, de você não acabar com a vida útil da sua câmera assim, de forma desnecessária.
Então eu acho que realmente isso é uma evolução e vai muito do momento em que o fotógrafo está. Pode ser que em um determinado momento ele queira fotografar mais, então é a evolução desse pensamento do fotógrafo, ela varia muito, sabe? De acordo com o momento em que ele está vivendo, o momento na fotografia que ele está vivendo.
Henry Milleo
Ok, eu entendo. Mas, só para situar os ouvintes aqui, a gente está falando de um tipo de fotografia. Porque, para esclarecer rapidamente: existem dois tipos de fotografia para o fotógrafo.
Quer dizer, pode ser que existam mais, mas enfim, vou separar em dois pra ficar mais fácil. Uma que é a fotografia por ofício, que é quando você é contratado para um trabalho, seja ele de eventos, de ensaio, do casamento, retratos e jornalismo, entre outras.
Toda essa gama de vertentes da fotografia e que você precisa fotografar, porque é o teu trabalho e estão te pagando pra isso. E em alguns desses trabalhos tem até uma cláusula em contrato que é um número X de fotografia. Então isso é uma coisa.
O que a gente está falando é do outro tipo de fotografia, que é a fotografia autoral, que você faz para você mesmo, de algo que o que te atrai, de algo que te agrada.
Nesse segundo tipo, eu ainda acho que existem outros tipos, que existe essa fotografia autoral, que pode ser uma série de fotografias, por exemplo, que eu fotografo sempre caixas de correio e fotografo - por mais estranho que pareça, mictórios em banheiro. Mas é um projeto de série de fotos.
E também existe o projeto estruturado, que você pega um tema e você busca contar uma história sobre isso através de um processo narrativo e que pode ser de curto, médio ou longo prazo, enfim.
Por exemplo, eu fiz um trabalho que se chamava Bow Tie Glitter, que traduzindo em miúdos quer dizer: gravata borboleta e glitter, onde eu acompanhei os protestos nas manifestações LGBT que aconteciam em Curitiba. Eu acompanhei durante três ou quatro anos, e eu fotografava esses elementos de vestimenta masculina que eram usados como uma crítica dentro das manifestações pela igualdade e pelos direitos da população homossexual.
Então tinha todo um pensamento em cima disso, tinha toda uma estrutura – e isso acontecia muito rápido, porque era só um dia de protesto - mas ele durou alguns anos, uns três ou quatro anos.
É desse tipo de fotografia que a gente está falando, da fotografia que você faz para você mesmo e não do tipo de fotografia que você é contratado.
Não é dizer assim: eu não vou mais pegar freelas, porque eu não quero mais fotografar. São coisas distintas, só para deixar bem claro.
Hamilton Zambiancki
Exatamente. Quando a gente fala na fotografia autoral, além de, claro, todas essas perspectivas que você disse que é: se o fotógrafo está pensando em fazer uma série ou estabelecer um projeto mesmo, com toda essa narrativa. Mas a gente não quer dizer que quem fotografa single shot, por exemplo, que não esteja fotografando de uma forma autoral.
E eu acho que isso se encaixa muito bem para um single shot, para falar bem a verdade. Porque quando você está fazendo uma série, quando você está fazendo um projeto, você já tem que ter – pelo menos é isso que esperamos – tem que ter um roteiro ali e você já vai ciente do que você vai fotografar então, ou seja, você já meio que pré estabeleceu que você vai ser seletivo.
Agora, quando você está fazendo single shot, por exemplo, é nesse viés da fotografia que vai estar o perigo de fotografar por demais.
Vou dar um exemplo. Sempre que eu saía para ir para o centro de Curitiba, eu levava todo meu equipamento. Então era uma parafernália. Eu levava a minha Nikon, que eu sou nikonzeiro declarado, mas além da câmera eu levava duas, três lentes, duas baterias extras, flash… Ou seja, você sai com todo esse equipamento, todo esse aparato e dispará-lo a esmo é complicado.
Às vezes eu via uma pessoa que estava sentada num banco e eu achava aquela cena legal e eu fazia do obturador da minha câmera um motor de fusca. Eu disparava em sequência. Não precisa disso. E aí, com essa evolução - que eu digo por mim mesmo, falo que foi uma evolução, pelo menos para mim – eu ia para o centro de Curitiba e comecei a pensar: eu não preciso fotografar tudo.
Então eu levava o meu equipamento e cada vez mais eu levava menos equipamento. Eu já não levava tanta lente, já não levava tanta bateria extra, que eu sabia que eu não ia usar. Já não levava flash, porque eu sabia que eu não ia usar. Então eu comecei a levar menos equipamento e aí eu comecei a pensar muito bem se eu fotografar ou não determinada cena.
O que eu comecei a fazer é a pensar bem no estilo da fotografia old school, na fotografia com filme, em que você tem que pensar muito bem se você vai dar um click ou não. Eu fazia isso no digital. Eu pensava: será que vale a pena? Para que eu vou fotografar isso? Como? Qual vai ser o resultado? Por que eu estou fotografando?
E aí chegou um momento em que eu comecei a, antes de ir para o centro de Curitiba, pensar se eu levava a minha câmera ou não.
Se eu levar a minha câmera, eu vou fotografa. Se eu não levar a minha câmera, tudo bem, não tem problema nenhum. E ainda sim pode acontecer de ter ocasiões de decidir levar a câmera e ainda assim não fotografar nada. Pode ser que eu não encontre nenhuma cena que mereça um registro.
E aí quando eu te mandei aquela mensagem, que você leu, isso veio mesmo que como uma preocupação. Será que eu estou me tornando menos fotógrafo justamente por não fotografar tanto e às vezes nem levar a minha câmera para os lugares para onde eu vou?
Mas neste mesmo momento veio ali um pensamento de que de certa forma eu estou evoluindo fotograficamente, evoluindo o meu pensamento fotográfico, porque eu estou me tornando, de fato uma pessoa mais seletiva.
Henry Milleo
Eu acho que eu acho que é mais ou menos isso mesmo, Hamilton, porque, veja bem assim, quantidade não quer dizer qualidade, entendeu? Não é porque a gente não está fotografando o tempo todo que a gente vai deixar de ser fotógrafo.
Primeiro porque se a gente for descer até a raiz do ser humano, do conhecimento humano, eu não acredito que a gente deixa de ser alguma coisa. Por exemplo, eu sou formado em jornalismo e trabalho com fotojornalismo, mas se eu decidir amanhã abrir uma cantina italiana para virar cozinheiro, eu vou ser cozinheiro – ou sei lá, se fizer um curso para ser chefe de cozinha.
Mas eu não deixo de ser fotógrafo. Eu vou ser jornalista, vou ser fotógrafo e chefe de cozinha. Por mais que eu não esteja exercendo alguma atividade dessas. Eu acho que os conhecimentos são coisas que se acumulam. Então, primeiro isso: você não deixa de ser fotógrafo só por não fotografar.
Aí vem a seguinte questão: eu estou exercendo a fotografia? Eu acho que a pergunta é mais essa, entendeu? Eu estou me descuidando? Porque também tem a questão de como você se comporta com a fotografia e de quanto ela importa para você.
Vamos pegar a Vivian Maier, por exemplo. Excelente fotógrafa, fotografava muito, mas ela morreu e deixou uma série de fotografias e um monte de rolo de filme sem sequer revelar, porque para ela o que importava era o ato fotográfico. Era o ‘estar fotografando’, entendeu?
Enquanto para outros fotógrafos, por exemplo, você pega o Martin Parr. O que importa é o resultado da fotografia, a visão que ele tem das coisas, a forma como ele está mostrando aquilo. O que importa é a fotografia, o resultado final do trabalho dele.
Então eu acho que tem essas duas coisas. A gente começa muito com isso de ter que estar fotografando. Eu já tive essa fase, eu tinha que estar o tempo todo na rua, com a câmera e o tempo todo fotografando. E durante a pandemia eu pude organizar os meus arquivos, tantos o arquivo de negativo quanto o arquivo digital e percebi que tem muita coisa ali, mas muita coisa mesmo, que não me serve para absolutamente nada. Eu tenho uma sequência de cinco, seis fotos, que são a mesma coisa, quando eu precisava só de uma.
Então a quantidade não quer dizer qualidade, e o fato de você não estar indo fotografar, como a gente fazia antigamente, que você tinha aquela ânsia por estar na rua fotografando, não quer dizer que você é menos fotógrafo, que você está menos envolvido com a fotografia ou mais envolvido com outra coisa.
O fato de você ser mais seletivo pode ser visto como uma evolução, sim. Pode ser visto como uma coisa mais triste também, porque você pode pensar: ok, eu não tenho mais tanto tesão em estar todo dia fotografando. Mas na verdade eu acho que é uma evolução, sim. Eu, por exemplo, desde que eu saí de Curitiba e mudei aqui pro interior, que eu não saio fotografar na rua. Não sai fazer fotografia de rua nenhuma vez.
Eu saio para fazer os projetos que eu estou fazendo aqui na cidade, que é fotografar a cidade, mas não é fotografia de rua, é fotografia urbana, é outro tipo de fotografia. Mas eu não saio mais a esmo a caminhar pela cidade, porque eu não vejo mais necessidade disso nesse momento.
Hamilton Zambiancki
Eu acho que a gente não pode ver isso como preguiça - porque existe uma essa linha tênue entre estar com preguiça de fotografar e ser seletivo. Eu acho que a gente tem que virar essa chave, a gente tem que entender que se a gente está fotografando menos, pode ser porque nós estamos mais seletivos.
E quando você comentou ali sobre o exercer a fotografia, eu acho que também a gente tem que levantar uma questão que é o fato de estar fotógrafo e ser fotógrafo.
Porque quando você é um fotógrafo, você não precisa estar o tempo todo com a câmera, você não precisa estar o tempo todo clicando, você consegue imaginar uma cena ou até mesmo conceber uma cena ali sem precisar do ato fotográfico.
Se você for um bom fotógrafo, aí você vai analisar se aquilo merece um registro e só então você vai fazer, sabe? Então você ser fotógrafo implica dar um passo bem mais adiante nessa questão de estar fotógrafo, porque aí você meio que fotografa só por obrigação.
Henry Milleo
E se você fotografar só por obrigação, isso levanta vários pontos.
Primeiro que você tem a necessidade de fotografar, você é compelido a fotografar, e isso é uma boa coisa. Aquilo que eu falei no exemplo da Vivian Maier. Você é compelido a fotografar, tem algo que te impulsiona para aquilo.
E outro ponto é quando você tem essa necessidade, mas por algum fator externo, como por exemplo: eu preciso postar alguma coisa no meu Instagram, entendeu?
Eu acho que quando você é fotógrafo e você está fotografando - que não seja para você criar o seu portfólio, que não seja para você atender um cliente - mas que você está fotografando para você e que você pode escolher o que fotografar, que você pode escolher inclusive não fotografar, eu acredito que você não deve dar importância nem razão para ninguém, entendeu?
Eu não fotografo para o Instagram. O Instagram não me paga, uma curtida não vale nada. Você tem que fotografar porque você gosta. Agora, quando você é compelido por um meio externo desses que a sociedade nos implica, isso é ruim.
Eu já tive alunos de fotografia que sempre vinham me perguntar quantas vezes eu tenho que postar por dia, que tipo de foto… você não precisa necessariamente fazer isso, você não é obrigado a fazer nada, entendeu?
Você tem que fotografar aquilo que vai ter um fim ou que seja um fim, falando da fotografia autoral. Um fim que te agrade, que não é para você agradar ninguém.
Então eu acho que o viés é mais ou menos por aí. Você pode ser um fotógrafo – e um bom fotógrafo – fotografando menos.
Hamilton Zambiancki
E mais… Eu acho que você falou tudo aí. Eu acho que a primeira pessoa que precisa curtir o que vai entrar, por exemplo, como você disse, no Instagram, é o próprio fotógrafo. Ele tem que estar satisfeito com aquilo.
Henry Milleo
E isso falando do material autoral, a gente não está dizendo aqui para vocês colocarem coisas que não são interessantes profissionalmente se o Instagram de vocês é o portfólio, se tem um fim comercial. É diferente.
E eu falo diferentes porque assim – eu acho que eu até postar ali no Instagram do Arquivo Raw, Vocês podem dar uma olhada lá, uma das fotos que eu mais gosto e que não diz absolutamente nada para mais ninguém, só para mim, por causa de todo o contexto pessoal que eu tenho de ligação com aquilo.
E é por causa de todo o contexto que eu tenho, do que me agrada visualmente. É só uma chaminé e um muro. Então eu vou postar e vocês podem checar lá no Instagram. Esse é o estilo de foto que eu gosto.
Então aqui a gente está falando da fotografia autoral, da necessidade do fotógrafo de fotografar ou não, ou de precisar ou não fotografar. E a decisão é só sua.
Assim, para... - chegando nos finalmente senão a gente começa a falar muito. Por exemplo, eu tenho um lema que eu criei fazem uns dois ou três anos, e que diz muito sobre isso que é: eu não me interesso por nada que tenha sido feito para ser fotografado.
Porque eu, enquanto fotógrafo, hoje, depois de quase 30 anos trabalhando com fotografia e para além da fotografia profissional e da fotografia comercial em que eu sou contratado para fazer, eu não me interesso por nada que tenha sido feito realmente para ser fotografado. Eu me interesso por outras coisas, eu me interesso por me expressar.
Eu cheguei num ponto em que eu não quero mais fotografar qualquer coisa por ela ser esteticamente bonita ou esteticamente agradável pelo que a sociedade acha que é esteticamente agradável. Eu quero fotografar para mim, para me mostrar, porque chega um tempo em que você começa a fotografar, não para mostrar ao mundo, mas para mostrar você para o mundo.
Então, a partir desse pensamento, eu acho que sim, é uma evolução. Você vai ficando mais velho, vai tendo mais consciência. Passou anos e anos fotografando e sabendo o que funciona e o que não funciona para você. Você escolhe se você fotografa ou não. E escolher não fotografar muitas vezes faz de você um fotógrafo melhor do que um cara que escolhe fotografar o tempo todo sem ter um porquê daquilo.
Hamilton Zambiancki
Exatamente. A gente estava falando anteriormente sobre o ser fotógrafo e que não necessariamente você precisa estar com uma câmera na mão fotografando – eu quero até compartilhar com você aqui uma experiência que eu estou tendo ultimamente: eu estou desenvolvendo um projeto fotográfico, que para mim tem total relevância, mas até agora – e isso já faz mais ou menos uns dois meses que eu já estou trabalhando para esse projeto – mas eu não dei um clique sequer até agora.
O projeto inteiro até agora foi de conhecimento, de adaptação, de inclusão no cenário que eu estou querendo registrar, e isso tudo faz parte do ser fotógrafo. É uma coisa bem, bem louca, sabe? Esse negócio de ser fotógrafo não é só o ato de fotografar. É lógico que tem alguns que levam isso mais a sério do que outros. Tem uns, como você disse, que levam mais a sério o resultado final e o que ele vai trazer com isso.
Mas a gente tem que pensar que o ser fotógrafo também está na parte em que você está pensando sobre alguma coisa que pode no futuro gerar uma fotografia. Então acho que esse é um ponto importante que, por mais que a gente esteja fotografando menos, não quer dizer que a gente está sendo menos fotógrafos, porque a gente vai continuar pensando a fotografia como um todo.
Henry Milleo
O fato de eu estar aqui gravando esse podcast talvez me faça mais fotógrafo do que em alguns momentos em que eu estou fotografando. Porque aqui eu estou pensando sobre o que é a fotografia e sobre o que ela significa para mim. Então eu acho que é isso.
Aliás, você falou aí do projeto. Eu vou gravar aqui ainda um episódio sobre o projeto fotográfico que a gente vai abordar isso, mas só adiantando: quando você faz um trabalho fotográfico, um projeto fotográfico realmente pensado – e eu não estou falando aqui de projetos para apresentar em lei de incentivo ou qualquer coisa do tipo, mas que eu estou pensando em fazer um projeto para se desenvolver um trabalho fotográfico – a menor parte do trabalho é fotografar, então tem muitas outras etapas que tomam muito mais tempo do que o fotografar.
Hamilton Zambiancki
E que te fazem da mesma forma, fotógrafo.
Henry Milleo
Exato. Às vezes, como eu disse, mais fotógrafo do que alguém que está disparando a câmera.
Mas é isso. Vamos chegando ao final desse episódio, que também é o final dessa temporada. Eu queria agradecer ao Hamilton por participar desse episódio. Eu realmente estou matando a saudade de gravar – não matando saudades das nossas conversas, porque a gente conversa praticamente o tempo todo sobre fotografia – mas matando saudades de gravar juntos esse bate papo aqui.
E como você sabe, o microfone está sempre aberto. A hora que você quiser participar ou a hora que você tiver um tempo – eu sei que você está sempre na correria – a gente grava outros episódios juntos também. Muito obrigado, meu irmão.
Hamilton Zambiancki
Então, meu caro, é mesmo um prazer. Realmente matando a saudade de conversar sobre fotografia dentro do podcast e sempre que puder estou aqui junto.
Sabe como é, né? O bom filho, a casa torna. Então sempre que eu puder eu apareço por aqui.
Henry Milleo
Então é isso, pessoal, a gente vai ficando por aqui. O Arquivo Raw vai fazer uma pausa um pouco maior, mas logo eu estou de volta.
Fiquem bem. Até a próxima. Ciao!
<SOBE MÚSICA
FADE OUT
ENCERRA>
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