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Ep. 16 - Projeto Fotográfico


 

Pegando carona no projeto que deu origem ao livro Gênesis, do fotógrafo Sebastião Salgado, esse episódio traça um roteiro de como pensar e desenvolver um projeto fotográfico.



Como desenvolver um projeto de fotografia




Roteiro

Temporada: 004

Episódio: 016

Gravação: Henry Milleo

Locução: Henry Milleo



<SOBE MÚSICA

DESCE MÚSICA>



Olá, pessoal. Estamos começando mais um episódio do Arquivo Raw, um podcast para falar de fotografia.


Eu sou Henry Milleo, sou fotógrafo, editor de fotografia e host disso tudo aqui.


E eu queria começar esse episódio fazendo uma pergunta: Você já pensou em fazer um projeto fotográfico?


Se sim, continua escutando que esse episódio é para você. E se não, continua escutando também, porque eu defendo a teoria que todo fotógrafo deve ter um projeto para chamar de seu.


Primeiro porque a fotografia é uma forma de se expressar. Eu acredito piamente nisso. E é muito fácil esquecer disso quando você tem ela também por ofício. Quando é o trabalho de fotógrafo que paga as suas contas.


Porque está tudo bem. Você pode atuar na fotografia comercial cobrindo eventos, fotografando produtos, fazendo ensaios ou cobrindo pautas. Eu faço isso.


Minha profissão é de fotógrafo e eu aceito os trabalhos que me aparecem dentro das áreas que eu atuo. Se fosse para eu fotografar só o que eu gosto, muito provavelmente eu estaria completamente falido nesse momento.


Mas chega um ponto na sua carreira que de tanto fotografar sob demanda, só o que é comercial, que a tua criatividade esgota.


E não precisa ir longe para ver isso, basta procurar por uma hashtag qualquer aí no Instagram. Vê lá algo relacionado a fotografia de casamento, por exemplo. Tudo igual. Todo mundo fazendo o mesmo tipo de foto - que não são visualmente ruins, não é disso que eu estou falando, mas que são todas iguais.


E aí um dia você percebe que fotografar se tornou mais um fardo do que uma alegria. Que antes você curtia fotografar, mas que depois de anos fazendo isso você trata a fotografia como uma enxada. Pega o equipamento quando precisa carpir e devolve depois que carpiu.


E pior, você se encontra em algum momento olhando e salvando fotos de outros fotógrafos do mesmo ramo que o seu para depois reproduzir em algum momento. Mesma luz, mesma cena, mesmo quadro.


É por isso que você precisa separar os dois fotógrafos que existem dentro de ti. O que vai carpir e o que decide qual terreno quer carpir.


E uma das formas de fazer isso é fotografar para você mesmo. E um dos meios de fotografar para si mesmo exercitando e nutrindo a tua criatividade e a sua curiosidade fotográfica é desenvolvendo um projeto fotográfico.


Então é por isso - e porque esse foi um dos temas mais votados na enquete que eu fiz lá no Instagram - que eu vou falar sobre projeto fotográfico.


Mas antes eu preciso avisar você de uma coisa:

Esse vai ser um episódio doloroso, porque eu conto - mais ou menos - os passos para desenvolver um projeto usando como exemplo para ilustrar cada um deles, o projeto que deu origem ao livro Gênesis, do Sebastião Salgado.


Eu escolhi esse projeto porque muita gente pediu para falar sobre o Sebastião Salgado (e eu preferi falar de um projeto dele do que dele especificamente) e porque eu acho que a maioria dos fotógrafos aqui provavelmente conhece esse trabalho, então fica mais fácil assim.


Só que esse trabalho é talvez o mais ambicioso projeto fotográfico da história - se não for o maior é um dos maiores - e pode ser que por conta disso pareça ser difícil desenvolver um projeto.


Então eu já peço que você leve isso em consideração - que o exemplo é um chute bem alto, mas que pensar, criar e desenvolver um projeto não é um bicho de sete cabeças.


E, se você continuar achando difícil, você sempre pode me contratar para fazer uma mentoria.


Então vamos lá, mas primeiro - eu estava quase esquecendo - os meus recados.


<SOBE MÚSICA

DESCE MÚSICA>


E eu queria começar agradecendo ao pessoal que respondeu a pesquisa sobre o podcast. Vocês são ótimos.


E se você ainda não respondeu, ainda dá tempo. O link está lá na bio do Instagram e também aqui na descrição desse episódio.


É uma pesquisa rápida, leva só um minutinho para responder, mas já ajuda bastante para eu saber qual o caminho que o podcast vai seguir.


Então se você puder dispensar esse tempo para contribuir, eu agradeço.


E aproveita e segue o Instagram do Arquivo Raw, que é @arquivorawpodcast. É por lá que você pode enviar mensagens e indicações de temas para os episódios e também ficar sabendo do que vai rolar por aqui.


E se você gosta disso e curte o conteúdo, você pode ajudar a manter o Arquivo Raw no ar.


É simples e não toma muito esforço.


Uma das formas de fazer isso é ouvindo os episódios na Orelo. A Orelo remunera os produtores de conteúdo por episódio ouvido na plataforma deles. Não é muito, é coisa de centavos, mas já ajuda.


Outra forma de contribuir é compartilhando os episódios em suas redes sociais e indicando para aquele seu amigo ou conhecido que você sabe que iria se interessar por isso daqui.


Quanto mais o número de ouvintes cresce, mais o podcast tem força para buscar um patrocínio e assim é possível investir em episódios cada vez melhores.


E você também pode classificar o Arquivo Raw no seu tocador preferido. Cinco estrelas seria ótimo, mas você pode marcar quantas quiser.


E por último você pode contribuir fazendo um pix com qualquer valor para a chave que está na descrição desse episódio.


E é isso. Recados dados, vamos para a vinheta e para o episódio.


<ENCERRA MÚSICA E ENTRA VINHETA

ENCERRA VINHETA E VOLTA SEM MÚSICA>


Eu não falei com o Sebastião Salgado - nem tentei, na verdade - mas aí eu fiz uma engenharia reversa do Gênesis e pesquisando entrevistas e palestras que ele fez durante o lançamento do livro, eu destrinchei aqui o que seria a mecânica da produção desse trabalho, levando em conta, é claro, um ângulo mais genérico de como funciona a construção de um projeto fotográfico, sem aprofundar em tópicos específicos do Gênesis, até porque os tópicos específicos teriam que ter uma resposta do fotógrafo e da equipe que fez ele acontecer.


Mas vocês vão ver que aqui para esse episódio essa minha análise de documentos já é suficiente para entender como funciona isso tudo, ok?


A primeira coisa que você precisa fazer em um projeto fotográfico é definir o tema.

É aqui que você responde as questões: o que eu quero fotografar e por que eu quero fotografar.


O mais comum para um primeiro trabalho é buscar algo com o qual você tenha familiaridade. Um assunto que você goste, algo que te interessa.


No caso do Salgado ele trabalhou com um tema que - segundo entrevistas dele - já estava na sua mira há um bom tempo. E é um tema recorrente no trabalho dele, que é a relação do ser humano com o local onde está. Ele fez isso no Êxodus, no Trabalhadores e no Outras Américas (que é o primeiro livro dele e também é o livro dele que eu mais gosto).


Só que desta vez ele resolveu ir na origem - daí o nome Gênesis - e buscar o planeta mais próximo da criação. Mais perto de quando o homem apareceu por aqui.


Lugares muito pouco tocados pela humanidade.


A segunda coisa é definir onde você vai fotografar.


E é exatamente isso, o cenário. Onde as imagens do teu projeto acontecem.



Seguindo com o exemplo que eu peguei, os cenários eram os locais mais inóspitos do planeta.


Uma floresta intocada, uma região árida, uma região rochosa, uma região árida e rochosa, um local cercado pelo mar, um local de água doce, um local frio, um local quente, um local de vegetação rasteira, um local com uma população que pouco mudou, que manteve costumes de séculos… enfim. O planeta mais distante.


Só para facilitar.


A terceira coisa - e uma das mais importantes - é a pesquisa


Pesquisar o tema, ouvir especialistas, conversar com pessoas do meio que você quer fotografar, ler, ver, ouvir… Absorver conhecimento para ter bagagem e retratar o que você quer retratar o mais fiel possível.


E aqui eu digo o mais fiel possível em relação à linguagem e à forma que você quer contar aquela história, ok? Porque você pode fotografar um assunto por diversos ângulos diferentes.


E na sequência, ainda dentro da pesquisa, vem o definir a questão geográfica disso.


Por exemplo, no Gênesis: Onde fotografar o árido? Qual floresta retratar? Qual região fria? Quais locais representam melhor o que é preciso para o projeto?


E qual a melhor época para cada local? Em que estação a floresta é mais verde? Quando no ano venta mais ou menos no ártico? Quais animais encontrar em qual lugar e em qual época do ano? Ou ainda: quando aquela tribo X realiza aquele ritual Y que é legal de registrar para mostrar a interação não destrutiva do ser humano com a natureza?


E botar lá um pin no mapa, com o local exato ou mais ou menos exato de onde ir e uma data.


Tendo bagagem e sabendo o que você quer com o projeto, você pula para a parte de planejar a imagem. Não é montar a imagem fixa e imutável na sua cabeça e buscar por ela. É ter um norte visual do que você precisa. O que você vai fotografar especificamente para a narrativa do projeto.


E aqui eu digo que não é fixa e imutável porque é quase certeza que algumas coisas do projeto acabam mudando no caminho. E isso é normal. É tipo motorista freando o ônibus. A carga se ajeita.


No Gênesis o Salgado sabia o que queria. Ele foi na Amazônia para fotografar a floresta em uma determinada época do ano porque o clima era mais seco ou mais úmido e isso influenciava no reflexo da luz nos tons de verde. E tinha uma tribo que ele queria retratar naquela época porque eles tinham um ritual específico. E ele sabia disso porque ele fez a pesquisa.


E aí vem a parte mais complicada, que é a logística e o financiamento


É nessa parte que você se desespera. Porque é aqui que a maioria dos projetos morre na casca.


Primeiro porque é preciso decidir quanto tempo ele vai durar. E quanto tempo vai durar cada etapa, se for um projeto em etapas. Porque isso influencia diretamente no desenvolvimento do trabalho.


Mas também não é uma regra fixa. Existem projetos que são mais abertos. Por exemplo. Eu tenho um projeto, que eu faço com o celular onde eu fotografo caixas de correio.


Eu ando por aí e quando encontro uma caixa de correio que se encaixa visualmente no que eu estou buscando, eu faço uma foto.


É um projeto despretensioso, que eu faço quase que como um hobby e que não tenho pressão de tempo, de produção ou de qualquer coisa assim.


Mas eu não tenho custos com ele também. O único gasto que eu tenho é da sola do sapato. Diferente de eu decidir fotografar uma caixa de correio em cada capital do país. Aí eu teria custos.


Mas, voltando para o exemplo, você consegue imaginar o tamanho da bronca logística e de financiamento de fazer o Gênesis?


Lugares ermos, alguns acessíveis só caminhando, ou só de avião, ou só com semanas dentro de um barco? Ter que acampar por dias em lugares inóspitos, precisando levar toda a alimentação que você vai consumir? Imagina o tamanho da equipe por trás disso?


Isso tudo custa. E não custa pouco.


Mas se você não tem dinheiro para investir em um projeto grande, alguém tem. Você pode buscar patrocínio em empresas, em governos, em organizações, em fundações ou através de bolsas e de leis de incentivo.


Monta um projeto, explica porque ele é importante, como você vai fazer, quanto ele custa e qual a contrapartida para quem financiou e apresenta quantas vezes forem necessárias. É assim que se faz. É assim que a maioria dos fotógrafos faz.


E aí, quando você tiver o ok e tiver tudo acertado nas etapas até aqui, você vai fotografar.


No Gênesis o Salgado definiu o calendário - saio na segunda e volto na sexta - pegou seu equipamento e aquele chapéu coco que ele usa e partiu.



Provavelmente ele foi para mais de uma região de interesse, talvez até tenha retornado para algum lugar mais de uma vez, montou acampamento, estudou a luz, definiu o quadro da foto, o melhor momento do dia e pronto. Fez o material.


E aí tu pode pensar que acabou, mas é só o começo. Porque depois de fotografar você tem que separar o joio do trigo, editar, ajustar, definir - se já não tiver definido - o que vai ser desse trabalho, se vai para um livro, para uma exposição, para uma reportagem, para um site, ou se é para tudo isso.


E começar a trabalhar a finalização e divulgação do seu projeto.


Se for livro precisa de um designer, de um editor, de um paginador. Decidir pelo tamanho da publicação, pelo tipo de papel, pelo tipo de impressão, pela quantidade de páginas.


Se for exposição precisa saber onde vai ser, o tamanho do espaço. Precisa de um curador para ajudar a criar a narrativa, para ajustar a iluminação da sala. Se for uma exposição itinerante tem que levar em consideração os tamanhos diferentes dos espaços e os cortes e ajustes que precisa fazer na quantidade de imagens para adaptar a cada lugar.


Agora imagina o trabalho que deu para o projeto do Gênesis, que tinha livros de diferentes tamanhos e exposições ao redor do mundo, cada lugar com uma característica diferente de espaço?


Não deve ter sido fácil. Mas garanto para você que valeu a pena. Se a gente que é público já se emocionou, imagina para o Sebastião?


E sim, como eu disse lá no começo do episódio, eu chutei bem alto aqui trazendo o exemplo desse projeto, mas é só para você entender e perceber uma coisa - que talvez você já tenha percebido - fotografar é a menor parte de um projeto fotográfico. E, ao mesmo tempo, a mais importante.


E eu digo isso porque quando se trata de fotografar algo, a maioria dos fotógrafos pensa diretamente no ato de disparar o obturador e esquece que antes, durante e depois desse processo existe muita coisa que precisa ser pensada e resolvida.


Então mesmo sendo um projeto pequeno e despretensioso, como eu e as caixinhas de correio, você precisa saber o porquê está fotografando aquilo - eu sei e um dia com mais calma eu conto - e precisa saber lidar com cada uma das etapas, sejam elas mais ou menos dolorosas de cumprir.


<SOBE MÚSICA

DESCE MÚSICA>


E é isso. Eu vou ficando por aqui. Espero que vocês tenham gostado desse tema, eu provavelmente vou abordar ele de novo no futuro, talvez trazendo um fotógrafo aqui para conversar sobre um projeto específico, não sei ainda.


Mas diga aí o que você achou. Pode ser através da caixa de comentários que tem aqui na descrição do episódio ou por mensagem lá no Instagram ou no site - os links também estão aqui na descrição.


<SOBE MÚSICA

DESCE MÚSICA>


Esse episódio usou trilha do podcast.co


Fiquem bem. Até a próxima. Ciao!


<SOBE MÚSICA

FADE OUT

ENCERRA>




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