Nesse episódio eu recebo o Antônio Neto, do canal Câmera Velha, para falar sobre fotografia analógica e o hype da película.
Roteiro
Temporada: 004
Episódio: 018
Gravação: Henry Milleo
Locução: Henry Milleo
Convidado: Antônio Neto
<FADE IN
ENTRA MÚSICA
MÚSICA DESCE>
Olá pessoal, estamos começando mais um episódio do Arquivo Raw, um podcast para falar de fotografia.
Eu sou Henry Milleo, sou fotógrafo, editor de fotografia e host dessa coisa toda aqui.
E antes de qualquer coisa, eu queria contar uma novidade aqui para vocês.
Além das formas tradicionais de ajudar o Arquivo Raw, que eu sempre comento aqui nos recados de abertura, outra forma de ajudar é adquirir um dos meus fotozines.
Você pode conferir os títulos e garantir o seu lá no Instagram do Arquivo Raw, que é @arquivorawpodcast. O link está na descrição aqui do episódio.
São publicações artesanais, com trabalhos que eu produzi e editei ao longo dos anos, e toda a verba recebida das vendas é revertida aqui para manutenção do podcast, ok?
Então confere lá e encomenda o seu.
E como vocês já devem ter visto aí no título, o tema desse episódio é a fotografia analógica.
E para bater um papo sobre esse assunto, sobre a fotografia movida a lenha, eu trouxe aqui um dos caras que mais entende deste assunto, que é o Antônio Neto, fotógrafo e criador do canal Câmera Velha.
E eu vou deixar aqui na descrição desse episódio e na transcrição desse roteiro lá no site do Arquivo Raw, os links para o Instagram e para o Youtube do Câmera Velha.
Aliás, lembrando aqui que todos os episódios do podcast têm a sua transcrição do roteiro lá no site, então se você tem alguma dificuldade para acompanhar em áudio, você pode conferir por lá, ok?
E também lembrando que no dia seguinte da estreia de cada episódio tem lá no site um texto correlato ao do episódio, que pode ser uma análise, uma dica ou um aprofundamento do tema, ok?
Então faça uma visita lá. O link também está na descrição desse episódio e na bio do Instagram.
Dito tudo isso vamos para os recados - apesar de eu já ter meio que começado a dar os recados - e depois pulamos para o episódio.
<SOBE MÚSICA
DESCE MÚSICA>
E eu queria começar agradecendo ao pessoal que respondeu a pesquisa sobre o podcast. Vocês são ótimos.
E se você ainda não respondeu, ainda dá tempo. O link está na descrição desse episódio e também lá na bio do Instagram.
É uma pesquisa rápida, leva só um minutinho para responder, mas já ajuda bastante para eu saber qual o caminho que o podcast vai seguir. Então se você puder dispensar esse tempo para contribuir, eu agradeço.
E aproveita e segue o Instagram do Arquivo Raw, que é @arquivorawpodcast. É por lá que você pode enviar mensagens e indicações de temas para os episódios e também ficar sabendo do que vai rolar pela frente.
E se você gosta desse podcast e curte o conteúdo, você pode ajudar a manter o Arquivo Raw no ar.
É simples e não toma muito esforço.
Uma das formas de fazer isso é ouvindo os episódios na Orelo. A Orelo remunera os produtores de conteúdo por episódio ouvido na plataforma deles. Não é muito, é coisa de centavos, mas já ajuda.
Outra forma de contribuir é compartilhando os episódios em suas redes sociais e indicando para aquele seu amigo ou conhecido que você sabe que se interessa pelo tema.
Quanto mais o número de ouvintes cresce, mais o podcast tem força para buscar um patrocínio e assim é possível investir em episódios cada vez melhores.
E você também pode classificar o Arquivo Raw no seu tocador preferido. Cinco estrelas seria ótimo, mas você pode marcar quantas quiser.
E é claro que você também pode contribuir diretamente, fazendo um pix com qualquer valor para a chave que está na descrição desse episódio.
E é isso. Recados dados, vamos para a vinheta e para o episódio.
<ENCERRA MÚSICA E ENTRA VINHETA
ENCERRA VINHETA>
Henry Milleo
Então é isso pessoal, vamos pular direto pro tema. Mas eu queria começar agradecendo ao Antônio Neto aqui pela disponibilidade de participar desse episódio e também queria dar três parabéns pra eles, um deles pelo Paraty em Foco, onde ele foi finalista esse ano. Um trabalho dele já havia sido premiado no ano passado, e ele foi finalista esse ano novamente, então parabéns por isso, Antônio.
O segundo parabéns é pela publicação na revista Fotografe Melhor, porque esse trabalho que foi finalista no Paraty – que a gente já vai falar sobre eles aqui – está na capa da revista desse mês.
E o terceiro parabéns, que é um parabéns um pouco diferente e que eu não sei se já te parabenizaram por isso, é um parabéns pelo nome do teu canal, porque Câmera Velha é um nome ótimo para um canal sobre fotografia analógica.
Então a gente vai falar sobre fotografia analógica aqui, mas eu queria que o Antônio começasse se apresentando, que ele dissesse quem ele é. Então diz aí, Antônio, quem é você?
Antônio Neto
Obrigado, Milleo. Eu agradeço a oportunidade, agradeço o convite. Pra mim é sempre uma satisfação enorme poder conversar sobre fotografia e falar um pouquinho sobre a minha experiência com a fotografia analógica em específico.
Mas de forma geral, para mim, falando de fotografia, eu sempre digo que eu vivo 120% do meu dia na fotografia.
Mas deixa eu me apresentar. Eu sou o Antônio Neto, idealizador do canal Câmera Velha, que é um canal voltado para fotografia analógica.
Na verdade eu sempre digo que o Câmera Velha é um canal de fotografia, e eu busco dar ênfase à fotografia analógica. Mas se você for pesquisar e buscar conceitos básicos de fotografia, que podem ser aplicados tanto na fotografia quanto na fotografia analógica, você vai encontrar conteúdo por lá. Já são sete anos de canal, quase 400 vídeos, então tem muito conteúdo lá.
Eu sou fotógrafo na cidade de Londrina, no Paraná. Sou nascido aqui, porém criado em uma cidadezinha bem pequenininha aqui ao lado, chamada Jacarezinho, que tem 10, 12 mil habitantes, mais ou menos. Quando eu tinha 23 anos de idade eu saí dessa cidade para cursar a faculdade de Biologia aqui em Londrina.
E é aí que começa a minha história, o meu contato maior com a fotografia, porque foi exatamente no primeiro semestre da faculdade, que eu comecei a estudar fotografia justamente para participar de um concurso fotográfico que teve lá, nessa universidade.
O tema do concurso era Click a Natureza, então eu coloquei um filme na câmera e pedi pro meu pai me dar algumas dicas de fotografia, isso em 2003. E com as dicas que ele me deu, porque meu pai, ele tinha sido fotógrafo na sua juventude, durante um curto período na década de 70.
Eu não sei se ele não chegou a ser profissional, mas ele era o freelance da época. Ele fotografava para outros fotógrafos.
Henry Milleo
Era um segundo fotógrafo.
Antônio Neto
Exatamente. Tem até umas histórias legais, que ele fotografava em campo de futebol e circo. Aqueles caras que tiravam foto no circo e depois traziam um monóculo.
Henry Milleo
Que tinha aquele burrinho pintado de zebra?
Antônio Neto
Isso. Ele fazia aquilo lá. Mas enfim, peguei essas dicas com ele. E fui com um amigo meu fotografar nessa cidade onde eu me criei. Ela é cortada por um grande rio do Paraná chamado Tibagi. E aí eu parti em um sábado a tarde com uma câmera e um rolo de filme para fotografar paisagens ali nessa região.
E acabou que eu enquadrei um caranguejo na beirada do rio e com esse caranguejo eu fiquei em primeiro lugar no concurso.
Meu primeiro concurso de fotografia e eu consegui o primeiro lugar, com as simples dicas do meu pai.
Henry Milleo
Estava escrito que era para ser isso.
Antônio Neto
Pois é. E daí em diante a fotografia sempre esteve comigo.
E o fato de eu cursar a faculdade de biologia... eu sempre tive muito interesse em fotografar os meus trabalhos e me apaixonei de uma forma visceral pela macrofotografia e foi o que me introduziu no mundo da fotografia. Foi a macro fotografia.
Porque eu, durante a minha formação como biólogo, eu comecei a trabalhar com insetos. Então eu queria fotografar esses bichos e vi aquilo, aquelas imagens lindas de macro.
E a macro, ela tem umas particularidades, muito dela, sabe? E é muito difícil. Tudo nela é mais difícil. É mais difícil focar, é mais difícil iluminar, é mais difícil enquadrar, é tudo mais difícil, tudo.
Ela precisa de coisas específicas, do flash específico, da luz específica, da lente específica. Então eu me batia muito, mas isso me abriu portas pra outras vertentes da fotografia.
Porque o cara pra aprender macrofotografia, não adianta que ele não aprende estudando macete, entendeu? Ele aprende estudando a base, o fundamento da fotografia.
E aí, nesse caminho todo, passou-se quatro anos de faculdade. Eu continuei fotografando depois, aí eu comecei a cursar mestrado em Curitiba, na Federal do Paraná e continuei me especializando.
Mas nessa época eu já comecei a fotografar de uma forma um pouco mais apurada, com mais técnica. Continuei estudando fotografia, continuei estudando biologia, terminei o mestrado, comecei o doutorado, fiquei mais quatro anos estudando e em 2009, mais ou menos, foi quando eu comecei a pegar os meus primeiros trabalhos como fotógrafo.
Aquela coisa: você tem uma câmera, vai na minha festa, leva a câmera, tira umas fotos.
Henry Milleo
Conheço bem esse discurso. Mas então, você é formado em biologia? Você é doutor em biologia?
Antônio Neto
Doutor em biologia, doutor em biologia. E aí então eu considero assim a minha formação fotográfica.
Iniciou em 2003 e de 2003 até 2009 eu segui apenas como um amador, um entusiasta. E em 2009 foi quando eu me considerei um fotógrafo profissional, porque aí eu era bolsista e complementava a minha bolsa com trabalhos de fotografia, para comprar equipamento. Eu usava essa graninha que eu ganhava, que era bem pouquinho, para investir na fotografia.
Agora, em relação a fotografia analógica, eu comecei fotografando com câmeras analógicas, mas eu não vivi a era de ouro do analógico.
Em 2003 o digital já existia, ainda que era muito restrito, mas existia. E eu demorei, pelo menos, uns três anos para conseguir comprar equipamento digital.
A minha primeira analógica foi em 2000 e a minha primeira digital foi mais ou menos entre 2008, 2009, então eu não usava mais analógico. As câmeras, o que eu tinha lá, eu já tinha jogado fora. Meu pai guardou alguma coisa.
Até que a minha filha nasceu, em 2012, e um dia do nada eu falei: eu quero tirar uma foto da minha filha com câmera analógica.
Peguei uma câmera que meu pai tinha e fui tentar fotografar e não lembrava mais de nada, tinha esquecido tudo. Como colocar filme, sabe? E principalmente aquela coisa gostosa da fotografia analógica que é você pensar para fotografar.
Porque eu acho que o ato de quem fotografa com o filme é diferente.
Henry Milleo
Essa era uma questão que eu ia te perguntar. Se você acha que quem aprendeu a fotografar no processo analógico – não que ele seja um melhor fotógrafo, porque dizer que é o melhor fotógrafo é relativo – mas que você acha que fotografar com o analógico traz um conhecimento a mais para o fotógrafo, uma forma de pensar diferente, um “slow down” da fotografia. Você não se desespera tanto?
Antônio Neto
Traz, principalmente pela experiência. A experiência é outra. As pessoas colocam muito a fotografia analógica como muito mais técnica, como muito mais difícil. Não é. As bases são as mesmas. Mas a experiência é outra.
A experiência é o que manda. A questão da qualidade. Pra mim, não importa a questão do grão, a questão da cor. Óbvio que a gente tem uma quedinha por uma coisinha ou outra, mas a experiência da fotografia analógica é outra coisa.
Então eu acho que na fotografia analógica, o fotógrafo é mais completo. Ele tem vivências diferentes, você entendeu? Ele não é melhor nem pior, mas ele enxerga a fotografia com muito mais carinho.
Quando você começa a estudar e vê o trabalho que os caras tinham para fotografar com uma câmera analógica, você dá mais valor. Então a experiência tua é diferente. O valor que você dá na fotografia é diferente.
Tem aquele clichê que todo mundo fala: quem fotografa com filme pensa mais, que quem fotografa com filme tem que acertar, tem que fotometrar, tem que focar, você gasta menos, você… isso é muito clichê.
Eu já superei isso daí há muito tempo. Tanto que hoje eu fotografo com filme… Cara, eu sou metralhadora, porque eu preciso da foto, eu quero a imagem, entendeu? Tem toda uma questão também do custo, da acessibilidade aos insumos, aos equipamento, a revelação. Eu sou um privilegiado, porque eu faço isso já há um tempão. Eu tenho laboratório, tenho filme à vontade, eu tenho câmera a vontade.
Então a minha experiência, ela já passou desse negócio de: eu tenho que economizar o click, tenho que pensar e tal.
Mas no início isso me adestrou de uma forma que hoje eu consigo gastar muito menos. Inclusive na hora que eu estou fotografando com digital.
Henry Milleo
Essa era outra questão que eu também ia fazer. Se isso ajuda no transferir assim…
Porque, veja bem, em 2003 eu comprei a minha primeira digital. Eu já trabalhava no jornal e eu comprei a minha primeira digital, que era uma Canon 10D. Mas o impulso de fotografar ainda era o mesmo – pelo menos do começo – do filme.
Eu também não economizava, porque eu trabalhava para o jornal, tinha que voltar com a foto. Mas depois de um tempo com a digital, eu comecei a fotografar, em quantidade, muito mais. E quando eu pego o filme – eu tenho aqui também que o meu estoque de filme que eu sempre vou repondo – mas eu fotografo diferente.
Eu gosto do ritual da fotografia, sabe?
Antônio Neto
O ritual, o processo...
Henry Milleo
É muito mais legal você abrir a câmera e botar o filme do que você enfiar um cartão. A fotografia é a mesma, o resultado geralmente é o mesmo, porque eu fotografo tanto digital quanto analógico com Nikon, então as lentes são intercambiáveis.
Antônio Neto
Da mesma forma que eu faço também.
Henry Milleo
Mas, como é que eu vou dizer… o teu espírito é diferente quando você está com uma câmera de filme?
Antônio Neto
Cara, eu sou… não é só porque é filme, tá? Isso acontece sim. O ato de fotografar, para mim é como se eu entrasse em transe. Então, quando eu saio para fotografar pra mim, principalmente, é impressionante. Porque às vezes eu passo uma hora fotografando e aquilo é tão prazeroso que parece que eu passei quatro, cinco horas.
Eu aproveito tanto aquele momento, eu e a câmera sozinhos… Londrina, cara, tem uma vantagem, porque para qualquer direção que eu saia cinco quilômetros, eu estou numa estrada rural. É uma cidade relativamente grande, tem 600 mil habitantes, mas pra qualquer lugar, qualquer direção da minha casa, se eu for de 5 a 10 quilômetros, eu estou entrando em uma estrada rural.
Então deu aquele dia de folga, não tem o trabalho no estúdio, não tem evento – porque eu sou fotógrafo profissional também, né. Eu comecei falando de tudo e acabei esquecendo.
Em 2012, quando a minha filha nasceu, eu fui fotografar e vi que eu tinha esquecido tudo de fotografia analógica. Foi quando eu falei: não, eu preciso fazer isso de novo.
E voltei a fotografar com analógico – estou fazendo uma ponte aqui. E quando eu comecei a postar, praticamente não existia mais fotografia analógica no Brasil. E algumas pessoas começaram a me perguntar: pô, Neto, eu tenho uma câmera dessa, você não quer pra você? Eu ia jogar fora. Achei uma câmera dessa, como é que eu coloco o filme? Onde eu acho filme?
E muita gente começou a me perguntar essas coisas. Foi quando eu pensei: que legal, a galera tá procurando isso. Foi onde eu tive a sacada de criar esse canal.
Henry Milleo
Como você pensou em montar o canal?
Antônio Neto
Então, foi por isso. Foi porque eu comecei a postar algumas fotos e muita gente começou a pedir para que eu ensinasse a colocar filme na câmera. O cara, que já era fotógrafo há cinco, seis anos, e não sabia colocar filme na câmera porque não viveu esse ritual.
Então eu comecei a ensinar isso para as pessoas aqui da minha redondeza e eu comecei a ganhar câmeras.
A rede social foi ótima para fotografia analógica. Eu acho que uma das melhores coisas. Pessoas que me enviavam mensagem dizendo: eu te dou uma câmera, vem buscar aqui. Tem um estoque de filme aqui que eu ia jogar fora, você não quer?
E foi onde eu comecei a me interessar muito mais, porque até então eu também não sabia tanta coisa assim. E eu fui estudar mais sobre fotografia analógica e tudo o mais.
E nessa época eu decidi gravar uns vídeos ensinando coisas básicas. Como colocar filme e isso tudo e subir no Youtube. E quando alguém me perguntava, eu respondia: assiste aí. E isso já vai para sete anos.
Mas voltando para aquele gancho que eu estava falando da minha experiência como fotógrafo. É como o que eu sinto ao sair e fotografar. Eu entro numa pira que às vezes eu acordo para trabalhar às nove e eu saio às 6h00. Saio de casa antes, para fotografar antes do trabalho. E parece que eu passei uma manhã inteira fotografando. Quando eu olho no relógio passou uma hora, uma hora e meia.
Então, aquela coisa da relatividade na fotografia comigo funciona ao contrário. Parece que o tempo passa mais devagar quando eu estou fotografando para mim, entendeu? Quando eu estou fotografando sozinho, ou numa estrada rural, ou na rua, sabe aquela coisa?
Então é isso que a fotografia analógica adestra a gente, assim como o fotojornalismo, a fotografia de rua. Mesmo se você sair com uma câmera digital na mão, se você for um cara sensível, você vai ficar esperto, vai ficar em alerta e tal.
Você não vai sair disparando a esmo. Óbvio que no começo isso aí é comum de acontecer, porque a gente não quer perder nada, mas depois a gente vê que isso daí é o tempo que vai fazer a gente ficar um pouquinho mais…
Henry Milleo
Vai aprendendo o o que vale a pena e o que não vale a pena.
Antônio Neto
Vai aprendendo.
Então é isso, cara, o meu contato com a fotografia analógica ele é…. Eu só sinto não ter mais tempo para fazer mais do que eu faço, porque eu sou apaixonado por isso, sou um viciado, um maluco.
As vezes minha esposa fala: como é que você consegue?
Henry Milleo
Ela reclama muito? Porque vocês não estão vendo, pessoal – e eu não consigo dar um print aqui na tela – a quantidade de câmera que tem ali atrás.
Isso daí é só uma pequena parte do que você tem, certo?. Você já arrumou encrenca com a tua esposa por conta de: mais uma câmera?
Antônio Neto
Então. Já já eu falo sobre isso, mas assim. Na minha coleção eu tenho 366 câmeras. Aqui eu devo ter umas 250, mais ou menos. Aí eu tenho mais algumas no meu estúdio, tem mais algumas encaixotadas aqui, que eu tentei colocar elas de uma forma que elas apareçam bem. Agora já não cabe mais.
Mas cara, eu tenho conflitos conjugais sim, porque a minha esposa, ela briga comigo porque eu tenho esse escritório, que a gente está conversando aqui, que é um escritório meu. Então aqui eu tenho – você só está vendo a coleção de câmeras, mas desse lado tem uma bancada que está toda bagunçada.
Henry Milleo
Mesa de fotógrafo.
Antônio Neto
Mesa de fotógrafo. Aqui na minha frente é a minha biblioteca, naquele canto eu tenho o meu equipamento profissional, em cima eu tenho armários que eu guardo de tudo. Este quarto ele é 100% fotografia. Tudo, tudo, tudo. Qualquer gaveta que você abrir aqui, qualquer canto de parede, qualquer armário, tudo.
Tirando essa bancada onde eu tenho o meu computador, que eu uso para fotografia, meus scanners, minha impressora e tudo mais, tudo é fotografia.
Aí você vai na sala e ali tem os meus livros – uns dois ou três – decorando ali. Aí tem mais as fotos da minha na parede, tem mais um armário que eu guardo algumas coisinhas. Aí você entra na cozinha, abre a geladeira e na porta da geladeira e em uma prateleira, é só filme.
Você vai na despensa, que aqui nesse apartamento tem uma despensa, que antigamente chamavam de quartinho da empregada, e que foi transformado numa despensa. Nessa despensa eu tenho um armário gigante que é só coisa de fotografia, que é onde eu guardo meus químicos. E no banheirinho da empregada foi onde eu fiz o meu laboratório.
Henry Milleo
Então a tua esposa não tem espaço na casa alheia.
Antônio Neto
É isso que ela reclama, é isso que ela reclama.
Mas ela entende. Ela me entende. Mesmo, porque a fotografia é a minha profissão. Então é disso que a gente vive, é isso que paga as contas de casa. Então ela é muito compreensiva comigo. Isso aí eu não posso reclamar.
Henry Milleo
Mas voltando para as tuas câmeras, deixa eu te perguntar. Qual foi a mais difícil de você conseguir? Qual você mais gosta? E depois a gente vai trocar impressões sobre qual é a mais difícil de operar.
Antônio Neto
Eu tenho várias câmeras preferidas. Mas se você perguntar qual é a minha câmera preferida, é uma câmera que ela não tem nada de mais. Ela não é a mais rara, ela não é nada, que é a Nikon F3.
A F3 tem uma história legal porque: primeiro, ela foi lançada no mesmo ano que eu nasci. Ela é de 1980 e eu nasci em 80, então eu e ela fomos projetados mais ou menos na mesma época.
Ela foi a primeira câmera que foi desenhada, o visual dela… porque o design da Nikon até então, até a F2, eram os japoneses que faziam, e a partir dela, o design começou a ser desenhado por um italiano. E eu sou descendente de italiano.
Para vocês terem uma ideia, essa foi a primeira câmera da Nikon que começou a ter esses detalhes…
Essa daqui é a minha câmera de trabalho, uma D750.
Henry Milleo
Eu tenho uma dessa também.
Antônio Neto
A D750, assim como todas as suas antecessoras, todas as câmeras da Nikon, sempre têm um detalhe em vermelho – apesar de o vermelho ser a cor padrão da Canon, né? Mas toda a câmera da Nikon sempre tem um detalhe em vermelho.
E a Nikon F3 foi a primeira câmera a ter esse detalhe. Que foi o mesmo cara que desenhou uma Ferrari, e tal e eu acho que ele quis meio que…
Henry Milleo
Fazer uma alusão a isso?
Antônio Neto
Exatamente. Então, essa é a minha câmera preferida. E sem contar que é uma puta de uma câmera, né?
Henry Milleo
Tremenda câmera. Eu trabalhei anos com uma F3, depois eu pulei para a F4, porque é uma câmera mais rápida para fotojornalismo, mas eu usava a F3 com motor drive, inclusive.
Antônio Neto
Sim. A minha está assim, deixa eu pegar ela aqui só para te mostrar. Uma pena que o pessoal não vai conseguir ver. Ela fica do lado da F4 ali.
E essa câmera aqui, se eu te falar que ela saiu da loja ontem, você acredita.
Henry Milleo
É, pelo vídeo ela parece bem bonita.
Antônio Neto
Ela não tem um detalhe de risco sequer, nem poeira, nem nada.
Henry Milleo
E onde você descolou ela? Você garimpa? Porque eu vi em alguns vídeos que você estava atrás de umas placas antigas da Kodak, da Fuji… você faz esse garimpo nessa região aí? Porque tem muita loja de foto que ficou parado no tempo…
Antônio Neto
Eu acho que pelo fato de eu – e isso aí não é querer me engrandecer, nada disso – mas o fato de eu meio que ter desbravado, ou re-desbravado essas áreas, isso me fez ter uma certa visibilidade. Me proporcionou certa visibilidade. Então as coisas acontecem comigo de um jeito que eu penso: como é que isso pode acontecer? E esse é um crédito que eu dou às redes sociais também. Essas coisas caem na minha mão.
Henry Milleo
Vai ter sorte assim.
Antônio Neto
Eu já tinha uma F3, que estava em bom, ótimo estado. E um dia, do nada, chegou uma mensagem para mim. Geralmente essas mensagens chegam de pessoas que não me conhecem, que foi indicação de outras pessoas que me conhecem.
E um cara de uma outra cidade chamada Cornélio Procópio, que fica a uns 50 quilômetros daqui de Londrina, me mandou uma mensagem: tudo bem? Meu nome é Fulano de tal e tal pessoa me passou o seu contato. E é o seguinte, eu vim do Japão já há uns dez anos e eu trouxe um equipamento fotográfico aqui, que eu nunca usei. Você tem interesse em ficar, comprar, sei lá, trocar por alguma coisa?
E eu perguntei: o que você tem aí? E ele me disse: Eu tenho uma Nikon F3 com uma 200mm f4, uma 35mm, e uma 85mm f2, tudo numa caixa.
E já faz seis anos mais ou menos que essa câmera parou na minha mão.
Henry Milleo
Cara, eu vou te dizer que este está sendo um dos bate-papos mais difíceis para mim, porque eu estou vendo um monte de coisa, você está me mostrando um monte de coisa e eu já estou querendo me embrenhar de novo em começar a comprar a câmera. Eu tinha várias câmeras de filme e eu acabei vendendo várias delas, para passar para frente, porque não me serviam mesmo.
Antônio Neto
Se você cair no tal do colecionismo, você está ferrado. Porque hoje em dia os equipamentos são caros e você tem que pensar que isso aqui, parado, é dinheiro parado.
Henry Milleo
Essa é outra questão que eu ia te perguntar. Tem um mercado comercial, digamos assim, para a fotografia analógica?
Antônio Neto
Está extremamente aquecido o mercado comercial.
Henry Milleo
Não de venda e compra de equipamento, mas de trabalho, de fotografia mesmo?
Antônio Neto
Tem. Tem mais é vendido… ninguém me procurou…
Henry Milleo
Eles te procuram como fotógrafo, mas não necessariamente como fotógrafo de filme…
Antônio Neto
De dez anos para cá, mais ou menos, que é quando eu voltei a fotografar com analógico, eu acho que teve no máximo umas três pessoas que cogitaram me contratar para ser registrado com fotografia analógica.
Eu acho que nem isso. Duas pessoas, no máximo. Eu não tenho lembrança, mas uma ou duas pessoas que me falaram: Neto, eu quero te contratar para você fazer uma foto analógica. Eu quero uma foto analógica sua.
Porque eu também não quero vender esse trabalho, porque a fotografia analógica pra mim é uma outra pegada.
Henry Milleo
É coisa de espírito, não é coisa de trabalho.
Antônio Neto
Exato, não é trabalho. Para você ter uma ideia, o máximo que eu considero trabalho, obrigação ou responsabilidade em relação a fotografia analógica, é o canal. E é uma coisa que hoje já não me dá tanto tesão igual dava antigamente, mesmo porque hoje em dia a rede social bom, foi ótimo para fotografia analógica, mas para nós, como seres humanos, é uma coisa que está horrível.
Aí você vê, por exemplo, nichos muito… brigando. “Essa câmera não presta, essa câmera isso, essa câmera aquilo, esse filme não presta”… Cara. Aproveita a vibe e fotografa do jeito que você quiser.
Mas também existe um outro lado que eu acho que a fotografia analógica exige que você consuma ela de uma forma mais intensa. A fotografia analógica não vai te aceitar, você não vai curtir a fotografia analógica se for só para surfar na modinha. Você vai curtir por um tempo muito pequeno e você vai enjoar rápido. Ou você se entrega a ela e aprenda os seus fundamentos e viva ela plenamente, ou você vai perder o interesse por ela muito rápido.
Henry Milleo
Porque esse mercado em torno dela cresceu, né? Venda de equipamento, venda de filme, tem os laboratórios. Tem os caras do Lablab, em Curitiba, que são muito bons.
Antônio Neto
O Victor é o cara que eu tiro o chapéu. Cara, a história dele assim… eu tenho muito orgulho de no Paraná a gente ter hoje… eu não vou falar que aquilo é uma empresa, mas eu vou falar que aquilo ali é um templo da fotografia analógica.
E indico aqui pra todo mundo. Eu falo que tem dois laboratórios aqui no Brasil… que tem vários, vários. Eu posso citar pelo menos uma meia dúzia agora, de bate pronto. Mas o Vitor Leite, em Curitiba e o Gustavo Nani, em São Paulo… Esses caras se dedicaram de uma forma tão intensa, tão intensa. E você sabe o por quê, Milleo?
Henry Milleo
E o Vitor é um piá novo, né?
Antônio Neto
Exatamente. Porque ele começou nisso daí há cinco, seis anos atrás.
Henry Milleo
É diferente de você pegar um cara que era ‘das antigas’ e que continua – e que é válido também, não é?
Antônio Neto
Você vê o quanto esse cara evoluiu e o que ele construiu e a importância do papel dele para fotografia analógica a nível nacional..
Henry Milleo
Porque ele revela para o Brasil inteiro…
Antônio Neto
Para o Brasil inteiro e muita gente de fora, também.
Se eu não me engano, na América Latina, ele é quem mais revela filme. E detalhe – isso aí é depoimento dele – o primeiro filme que ele revelou, ele revelou vendo um tutorial do meu canal. E hoje eu sou fã do cara, me entendeu.
Mas voltando, só pra gente fechar esse assunto do Vitor, e isso tem a ver também com a coisa do hype da fotografia analógica. E eu sei que um monte de gente vai me interpretar mal, mas muita gente que está buscando o Vitor, que é um laboratório de excelência, para revelar filme velado. Você entendeu?
É aí onde eu acho que o Vitor poderia entregar um serviço e falar: não. O seu serviço é profissional? Porque antigamente os laboratórios eram assim.
Henry Milleo
Tinham dois balcões, né?
Antônio Neto
Eles tinham o balcão dos profissionais, que era para o trabalho que precisava de todo um cuidado, uma agilidade na entrega e tudo mais, e tinha os caras lá que fotografavam de saboneteira, que fotografava o dedão do pé, que fotografava… você entendeu?
Então é isso aí, para fechar. Eu acho que essa era a ideia que o Vitor devia meio que vender. E outra. No profissional, se você quer um filme revelado por mim, se você é profissional, se você vai fazer dinheiro com isso, é um valor. É um negócio, como qualquer outro.
E aí eu queria ver ele crescendo como empresário. Enfim, fica aí a dica, Vitor.
Henry Milleo
Fica a dica. Espero que o Vitor ouça esse episódio. Eu vou marcar ele no Instagram. Vou marcar o Lablab.
Antônio Neto
Marca e fala isso que eu comentei com você e vê o que ele tem a dizer sobre isso.
Henry Milleo
Você falou do hype da fotografia analógica. Você acha que isso se sustenta por muito tempo ainda? Porque eu já vi que agora o pessoal entrou numa onda de – eles até chamam de câmera vintage – essas Coolpix e Cybershot…
Antônio Neto
Mas eu vou te falar uma coisa que você vai ficar de queixo caído, cara.
Primeiro que você deve ter mais ou menos a mesma idade que eu. Uns 40, 42 anos, mais ou menos.
Henry Milleo
Eu tenho 48. É que a genética é boa e eu estou bem conservado.
Antônio Neto
Eu também rodei muito de pneu murcho, então… Mas nós, que somos do milênio passado, a gente tem a impressão que tudo o que vem depois da virada do milênio é novo. Tudo para nós… Fala em anos 2000 e de certa forma é novo e tecnológico.
Mas a virada do milênio foi há 23 anos. Uma pessoa que nasceu em 2005 está completando 18 anos esse ano. E uma pessoa que nasceu em 2005 não teve contato com essas câmeras. Uma pessoa de 18 anos pega uma câmera dessa hoje na mão e não sabe que isso daí tem um cartão de memória, que não tem wi-fi, que a noite você precisa fotografar com flash, porque senão não sai nada. Ele não sabe que isso daí você precisa descarregar em um computador.
Uma pessoa de 18 anos, um adulto de 18 anos, não sabe. Ele não sabe sequer ligar, porque uma pessoa de 18 anos começou a ter contato com fotografia, sei lá, dez anos atrás, e a dez anos atrás já era smartphone.
Então olha como isso é doido. Por isso é comum eu e você acharmos que isso daqui é tecnológico, que isso daqui… mas pra eles isso é vintage há muito tempo.
Henry Milleo
É a perspectiva. Eu tinha percebido isso na música. Eu tenho uma sobrinha, que ela tem 19 anos, entrou na faculdade agora faz pouco tempo, e ela gosta muito de rock. A gente conversa muito sobre rock, mas a gente conversa sobre álbuns, não só sobre música.
Eu sempre mando pra ela uns discos – uns discos que ninguém conhece, só eu conheço – e falo: escute esse, mas na sequência, porque ele tem uma lógica. E eu fui perceber há um tempo que para ela, Pink Floyd e Nirvana, é tudo antigo. Enquanto pra mim Pink Floyd é mais antigo, porque é da década de 70, e Nirvana… eu estava lá quando o Nirvana estourou. Mas pra ela não, para ela é tudo música antiga.
É a mesma coisa na fotografia. Tudo que não é smartphone ou uma câmera supermoderna, tipo uma mirrorless, é antigo. Então faz sentido, sim.
Antônio Neto
Então, a minha perspectiva sobre o futuro desse modo de se fotografar não é pessimista, não. É bem otimista.
Vai ter sempre os seus nichos, assim como o LP e o vinil.
Mas eu acho que ele vai entrar em um patamar… Assim, ele já subiu muito. Quando eu comecei o canal – eu sempre falo isso – eu ia nas cidades menores garimpar em fotos, porque não existiam as grandes lojas de fotografia aqui, nem em cidades pequenas. Elas eram chamadas de foto. Ah, vamos lá no Foto Santo Antônio, vamos no Fotocélula, vamos no Foto não sei o que…
E eu percorrias essas cidades e já não existia mais, e não se fotografava mais com filme. Mas sempre tinha lá um estoque antigo, de meia dúzia de caixinha de filme, que já estavam até amareladas, vencidas. E eu comprava tudo, porque eu tinha certeza que aquilo ia acabar. Eu tinha certeza que se eu não comprasse, muito em breve eu não ia ter onde buscar mais.
E eu continuei pensando assim um tempão. E isso é até uma coisa que eu trouxe para mim, que eu tenho que parar de comprar filme para estocar, porque eu devo ter em casa pelo menos uns mil rolos de filme.
Henry Milleo
Onde você compra onde filme hoje? Eu sei que você vende filme também, não?
Antônio Neto
Os filmes de cinema eu estou comprando da Runner Filmes, que é uma boa saída. Os filmes de cinema vieram para popularizar mesmo a fotografia nesses tempos de filme caro, porque hoje em dia os filmes convencionais, o mais barato que você vai encontrar, dificilmente é menos do que 90, 100 reais. Os convencionais
Henry Milleo
94 pila, o Ilford HP5 Plus, que é o meu favorito.
Antônio Neto
É. Aí se você partir para os filmes de cinema, que tem uma boa qualidade, que tem uma boa coloração, você vai pagar uns 50 reais, mais ou menos. Entre 50 e 60 reais.
Só que tem o inconveniente dos laboratórios, que não é em qualquer lugar que se revela. O processo de revelação até que não é o problema. O problema é a remoção do Remjet,
Porque muitos laboratórios nem sabem o que é isso.
Henry Milleo
Nem sabem que tem que fazer isso.
Antônio Neto
Laboratórios profissionais, tá? Agora os laboratórios que eu digo, os entusiastas ou os caseiros, que isso também é outra coisa muito legal que as redes sociais proporcionaram, de muita gente hoje oferecer serviço de revelação.
E aí sim eu acho que a comunidade analógica, ela prosperou nesse ponto. Em outra parte eu acho que não prosperou, não. A fotografia analógica tem muito de: é bonito, vamos formar uma comunidade aqui e tal, mas a hora que a coisa pega mesmo, vai cada um para um canto, entendeu?
Vamos fazer uma oficina, um encontro de fotografia analógica? Vamos!
Todo mundo quer fazer encontro, mas ninguém quer se unir, fazer release para jornal, ou fazer vídeo de divulgação. Se não é um doido parar a vida dele e programar um negócio desse, não sai do papel, entendeu?
Então é aquela coisa. Gente, vamos programar um negócio? Vamos. Então vamos lá, nós estamos aqui em 20 pessoas, tá? Cada um faz uma coisa e a gente faz um evento. Mas passa, esfria, vai cada um para um canto… não vai dar, não vai dar, não vai dar e morreu.
Essa eu acho que é uma deficiência. Por que? Porque a molecada – eu falo molecada porque hoje a fotografia analógica ela está nas mãos da molecada, entre 18 e 30 anos. E eu que já tenho 42, então eles são jovens para mim.
Quem faz girar a fotografia analógica hoje, comercialmente, com filme, venda, câmera e não sei o mais, que faz isso girar comercialmente, é a rapaziada. Não são os caras que que aprenderam a fotografar com filme, não foram os fotógrafos que viveram a fotografia analógica na sua plenitude, no seu auge. Eles não querem saber disso. Com algumas exceções, tá?
Eu participo do Foto Clube de Londrina e se há uma coisa que eles pegam no meu pé é aquela coisa: “pra que você quer essa porcaria que só te dá trabalho”? Entende?
Henry Milleo
Eu entendo, entendo bem.
Antônio Neto
Mas enfim, voltando a falar sobre esse o estado da arte da fotografia. O que faz acontecer é a rapaziada, só que a rapaziada – e eu não quero generalizar – mas eles querem é postar foto analógica no Instagram, entendeu? Não quer vestir a camisa.
Henry Milleo
Daí é mais fácil botar um preset de analógico.
Antônio Neto
Então, é isso. O que eu penso sobre o futuro é que chegou em um ponto que está legal, está muito bom, está aquecido, está bacana, mas eu acho que é difícil ela querer voltar o patamar que ela era há 20 anos.
Tanto que hoje você vê coisas que você não via. Filmes novos sendo lançados, novos formatos, uma camerazinha ou outra que é lançada. Mas isso para um mercado de quem quer meio que surfar, não para quem quer vestir a camisa, que é quem quer batalhar e quer viver a experiência plena. Entendeu? Quer postar fotinho com grãozinho…
Porque se você pegar mesmo, se você for ver hoje em dia, o legal da fotografia analógica é o errado que a gente via antigamente. Então já teve vezes de eu fazer aquela foto impecável com uma Pentax 67 e cromo, de você não saber que aquilo é analógico, e o cara chegar lá e perguntar: cadê a poeirinha? Cadê sujeira? Cadê o risco?
Como se a fotografia analógica tivesse obrigação de ser com baixa qualidade. É doido, né cara? Cara, a molecada, o povo vai ficar puto comigo.
Henry Milleo
Não fica, não. Não fica, não.
Mas então, para gente começar a ir para os finalmente, eu tenho três questões. A primeira – uma que você não respondeu – que é qual câmera é mais difícil de operar que você já pegou?
Antônio Neto
A mais difícil de operar, sem sombra de dúvidas, é qualquer câmera de grande formato. É a mais difícil de operar.
Henry Milleo
Mas por quê?
Antônio Neto
Primeiro, porque você não fotografa com essa câmera segurando ela na mão. Principalmente a Toyo, que eu ando fazendo um trabalho muito grande no estúdio, o Face Prateadas.
Ela é uma câmera que não dá pra fotografar na mão. Ela não tem nem lugar para você pegar nela. Se você pegar uma Graflex, por exemplo, como essa daqui, a Graflex até tem como você operar ela na mão. Essa daqui, inclusive, está funcionando perfeitamente, apesar do visual dela não estar tão bonito assim. Mas ela está ótima.
Então essa aqui você consegue fotografar com ela na mão. A Toyo vocÊ já não fotografa, ela é uma câmera de estúdio.
Então, primeiro que você precisa fazer tudo – não intuitivamente, ela tem as marcações, ela tem tudo aqui – mas você precisa primeiro ajustar o foco, você tem que ajustar o enquadramento, você tem que ajustar a fotometria – sem ter fotômetro. O foco, obviamente, é manual. E só depois que você fez todos os ajustes é que você coloca aqui, na parte de trás dela, um chassi com duas chapas. E na hora do clique você não está vendo o que você está clicando, porque a partir do momento… você usa o vidro despolido dela, que está aqui atrás, para enquadrar, para focar.
E a partir do momento que você coloca o filme, quando você está pronto para fotografar, você já não enxerga mais nada. Você encobriu vidro despolido.
Henry Milleo
Você cobriu a tua visão.
Antônio Neto
Exato. Então essa é uma grande dificuldade.
A segunda dificuldade é que você tem uma chance de fotografar. Duas se você tiver os dois lados do chassi carregados, entendeu?
Então, meu amigo, sem sombra de dúvidas isso aqui nas mãos de uma pessoa que nunca viu isso funcionar…
E detalhe, ela é extremamente complexa na questão dos protocolos. Então, além de você ter que focar, fotometrar, enquadrar, tudo antes de colocar o filme, depois que o filme está aqui e a câmera está pronta, aí você tem que tirar uma proteção, disparar, virar essa proteção para indicar que aquele lado do filme já está exposto, porque senão você se confunde todo e coloca de novo… e só daí então é que você vai tirar o chassi.
Eu não sei se você está habituado com esse tipo de câmera, se você entende do funcionamento dela?
Henry Milleo
Já tive inclusive o prazer de disparar uma.
Antônio Neto
Então, sem sombra de dúvidas, a mais difícil de operar é uma câmera de grande formato. Aí vem as câmeras de médio formato que…
Henry Milleo
Mas dessas que o que o cidadão comum conseguiria encontrar?
Antônio Neto
Você diz de 35mm?
Henry Milleo
É, porque assim, como eu te falei antes de começar a gravar aqui o episódio. Eu tinha uma Leica IIIF – que na verdade era uma Leica IIIC que foi convertida para IIIF ali na fábrica mesmo. Era da última linha IIIC e quando lançaram a IIIF eles fizeram uns ajustes e ela acabou virando uma IIIF..
E eu achava ela muito difícil.
Antônio Neto
Sim.
Henry Milleo
Eu me acostumei com ela, então com o tempo acabou não sendo tão difícil. Mas no começo…
Porque ela tinha… Você passa o filme girando um botão, depois você tem que ajustar a velocidade. Se quiser fotografar com menos de 30, você tem que pôr no 30 e girar um outro botão na frente dela. E se o foco for acima de tantos metros, você tem que puxar um outro botão que é o foco no infinito.
Antônio Neto
Isso sem falar que você tem dois visores, um para enquadrar…
Henry Milleo
Isso. Um da telemetria para fazer o foco e o outro pra fazer o quadro.
Você acha que se alguém pega uma câmera dessas, que isso acaba fazendo a pessoa desistir?
Antônio Neto
É por isso que eu… A indicação que eu dou, tá? Qual é a melhor escolha dela, para ela não se frustrar com a fotografia analógica – porque isso acontece muito.
Por exemplo, esse negócio de experimentação é para quem sabe o que está fazendo. Cara, na boa, vão me xingar mais uma vez.
Henry Milleo
Não vão, não. Eu te defendo.
Antônio Neto
Mas assim. Experimentação é depois que você sabe o que você está fazendo. Depois que você dominou a técnica. Aí você experimenta.
É a mesma coisa que eu falo para os meus alunos. Um aluno meu faz umas fotos lá e eu falo: isso aqui não está aquelas coisas e tal. E ele responde: mas eu quero desconstruir…
Você quer desconstruir? Mas você aprendeu a construir primeiro?
Então, filme vencido, dupla exposição, sopa de filme,
Henry Milleo
Filme com fungo…
Antônio Neto
Filme com fungo… Cara, isso aí é coisa lá pra frente. Porque se você pega… cara, você não tem noção da quantidade de mensagens que eu respondo de gente falando assim: Neto, coloquei o filme na câmera, fotografei, mas não tô vendo a foto.
Henry Milleo
Sério?
Antônio Neto
Não é brincadeira. Pergunta pro Vitor Leite o quanto de filme velado ele não recebe lá pra revelar, que a pessoa abre a câmera para ver as fotos no filme? E aí coloca de volta e manda para revelar? Converse com ele que você vai ver. A pessoa faz isso, cara.
Henry Milleo
Eu tô rindo, mas é de desespero.
Antônio Neto
Nesses casos eu falo: não vai no mais difícil, vai no mais fácil. Vai na saboneteira.
Você quer fotografar bem, você quer fotografar bem? Ah, mas não, Neto. Eu já sou fotógrafo. Tudo bem. Você já sabe o que é foco? O que é fotometria? O que é enquadramento? O que é tudo isso? Sabe?
Então você quer ter uma experiência analógica legal, sem se frustrar? Pega uma SLR automática, eletrônica. Que basicamente o que você não vai ter é a telinha de trás. Se você pegar… Eu mesmo, a minha câmera, que fica dentro do carro, que é a que mais uso, é uma Nikon F100, que é exatamente essa câmera aqui, essa D750.
Os botões estão no mesmo lugar, o visor está no mesmo lugar, as informações de obturador, diafragma, velocidade, estão no mesmo lugar. Tem autofoco, tem disparo contínuo, tem tudo. Ou seja, uma pessoa que fotografou a vida inteira com uma câmera digital, uma da Nikon. Se ele pegar uma analógica da Nikon, ele vai ter a intuição normal. Ele só não vai ver a foto na hora.
Henry Milleo
Quanto está custando uma F100?
Antônio Neto
Cara, eu acho que uns 1200, 1.300 reais. A minha eu paguei mil reais há uns três anos.
Então é isso cara, essa é a forma de frustrar a pessoa. É porque ela quer pular etapas. Isso é o mal dessa geração de rede social, de internet. Querem tudo rápido, tudo para ontem.
Eu já falei isso em um podcast com uma blogueira lá de São Paulo, a Maju. Se você não sabe o que você está fazendo, você não precisa se aprofundar muito, basta você chegar para o seu pai e perguntar: pai, como que eu coloco um filme na câmera? O que é isso? Me conta!
Porque se você pegar qualquer pessoa de 18 anos hoje, o seu pai vai ter mais ou menos a idade de 43, 45, 48 anos, e vai saber o que é um filme, vai saber na hora. Vai te ensinar que você precisa pegar isso aqui, colocar aqui. Que cada foto que você fizer vai ocupar um espaço aqui dentro. Que a hora que acabar o filme você precisa rebobinar e levar para o laboratório…
Qualquer pessoa de 45 anos sabe disso, mesmo que ela nunca tenha aprendido a operar uma câmera. Mas isso, esses conceitos, ela vai entender.
Henry Milleo
Ela sabe o que é aquele objeto.
Antônio Neto
Exatamente. Então a pessoa já não vai se frustrar. Agora, uma pessoa que vai lá e… Ah, eu vi a Bruna Marquezine e ela… Não estou criticando ela, ok? Mas: eu vi a Bruna Marquezine fotografando com uma Mju… E aí vai lá comprar uma Mju de 600 reais, que é uma câmera que até uns anos atrás você pagava 30, 40 reais.
Mas ficou no hype e subiu o preço. Capitalismo, amigo. Eu não critico quem vende caro, não critico quem vê oportunidade de ganhar dinheiro com isso, não. Tá certo mesmo.
Enfim, aí vai lá e compra uma câmera dessas e não é aquela coisa de foto bonita, mas também não é foto ruim. É uma câmera que é cara, que não vai durar pra sempre…
Henry Milleo
Só plástico.
Antônio Neto
E não vai durar pra sempre. Aí vai se frustrar. Ou então compra uma Leica, porque viu que o Cartier-Bresson era o maior, ‘leiquista’ que já existiu, que só com uma 50mm fazia tudo aquilo. Vai lá, investe seis, sete, oito mil reais em uma câmera e faz umas coisas dessas. Acaba se frustrando demais. Então, para você não se frustrar, comece do básico.
Henry Milleo
De 12 a 28 mil uma M6, que é o meu sonho de consumo. Sobe para 36 mil se for aquela Millenium Edition.
Antônio Neto
Olha aí. Você está vendo?
Então vai no básico, começa de baixo, não queira surfar na onda muito rápido, querer ultrapassar etapas. Como eu disse, a fotografia analógica você tem que se entregar, tem que curtir. Então o que você vai ter vai ser muito mais prazeroso. Você curtir e você vivenciar ela de uma forma mais intensa, sabe? É isso.
E assim que você começa a pegar paixão, cara, você nunca mais vai desistir.
Agora, se só o que eu quero é ter uma foto para postar aqui, com um grãozinho, mete o preset lá. Vai ser mais fácil do que gastar grana, tempo, dinheiro e paciência. Eu não tô querendo generalizar também, mas é mais ou menos isso. É o conselho que eu dou pra galera.
Vai devagar, vai por etapas. Aí depois que você dominou, aí sim. Já sei o que quero, já sei o que eu tenho, já sei o processo, já sei tudo. Legal!
Agora eu vou experimentar. E eu vou lá na dupla exposição, vou apertar um botãozinho aqui, outro ali, vou tentar uma coisa diferente, vou tentar uma revelação, vou tentar eu mesmo revelar…
Que isso também é outra coisa. Eu acho que você só vive plenamente a fotografia analógica se você tem contato com o processo também, que o processo completo.
Não estou falando que você é melhor ou pior fotógrafo. Você domina o processo. Mas cara, a sua cumplicidade vai ser maior. Porque o resultado, cara, o resultado não interessa. O que interessa é a experiência.
Às vezes vem frustrações, às vezes não. Mas o fato de você viver completamente aquilo a partir da revelação, a partir da ampliação – que também é outra história, outro universo que, infelizmente, 90% eu creio que 90% de quem fotografa com analógico hoje em dia não tem essa experiência, que é uma coisa assim… é visceral.
Henry Milleo
Eu lembro da primeira vez que eu vi uma foto aparecendo em um laboratório.
Antônio Neto
Você nunca vai esquecer.
Henry Milleo
Eu pensava: Cara, isso daí é magia. E eu quero ser bruxo também.
Infelizmente hoje eu não consigo. Porque eu não tenho espaço em casa para montar um laboratório.
Antônio Neto
E isso é uma pena, é uma pena. Por muito tempo eu só fotografei e revelei o filme e digitalizava. E aí quando eu me mudei pra esse apartamento, agora está com quatro anos, eu peguei esse banheirinho, que é um e meio por um e meio, um cubículo. Só cabe eu. Eu juro. Não cabe outra pessoa.
Porque eu montei uma bancadinha e eu entro e eu não consigo dar um passo nem pra direita, nem pra esquerda. Eu entro e eu só consigo girar 360 graus.
Henry Milleo
É um Tetris.
Antônio Neto
É um Tetris, exatamente.
Eu não consigo me deslocar. Enfim, agora de quatro anos pra cá eu estou tendo essa experiência e para mim é uma coisa que eu não quero parar de fazer, sabe? Pelo menos aquelas fotos mais importantes, mais bonitas, porque é outra vibe, é outra coisa.
E aí sim você vai se frustrar muito e aí sim você vai compreender o que é… você sabe que aquela coisa que a gente aprende hoje em dia na escola de fotografia digital, sobre fotometria, sobre o preto ou branco, escala de cinza, que as escolas sérias de fotografia ensinam hoje, você só consegue ter total entendimento disso se você participou do processo de laboratório.
Se você compreende o processo do laboratório. Por que o que é preto e o que é branco no digital? Ninguém sabe, né? Pixel. O que é o pixel preto, o pixel branco? No teu monitor pode ser uma coisa, no meu monitor é outra.
Henry Milleo
Até porque tem relação. E isso é uma coisa que eu sempre falo, que eu gosto de falar.
Por exemplo: 98% do meu material material autoral, material particular, que não é trabalho, ele é em preto e branco. Porque eu me sinto mais confortável fotografando em preto e branco.
Eu comecei na fotografia em preto e branco. Mas com o tempo você vai….você olha um amarelo e você sabe que aquilo, sei lá, tem 13% de cinza, entendeu? Que um vermelho pode ter de 64 a 78 por cento de cinza.
Antônio Neto
A reflexão.
Henry Milleo
E esse processo, eu acho que é interessante as pessoas aprenderem, mesmo quando você vai fotografar em cores. Mas principalmente nessa vibe do pessoal que fotografa e só vira a foto em preto e branco, para dar uma cara de “artístico”.
Antônio Neto
E não sabe qual é o contraste de um verde para um amarelo no preto e branco.
Henry Milleo
Exato.
Antônio Neto
Não sabe o que é canal de cor. Porque se você pegar os canais de cores hoje, você pode pegar as coisas que a gente fazia com os filtros. Então você realça os tons de amarelo com o filtro amarelo, você realça os tons de verde com o filtro verde. Isso na fotografia preto e branco.
Então eu acho que é assim: você só tem entendimento pleno de escala, de cinza, de fotometria, se você teve uma experiência no laboratório. Aí sim.
Mas, infelizmente, além de ser extremamente caro, você não tem material disponível. E é isso que me deixa um pouco pessimista em relação a fotografia analógica.
Nós temos quem está fabricando papel, nós temos quem está fabricando filme, nós temos quem está processando esse material, mas nós não temos quem está fabricando ampliador, nós não temos quem está fabricando o tanque.
Acho que tanque até tem.
Henry Milleo
Tanque ainda acha. O que eu comprei é novo.
Antônio Neto
Acho que a Paterson fabrica alguma coisa assim.
Henry Milleo
O meu é da Paterson.
Aliás, nós precisamos de alguém que fabricasse com qualidade um tirador de filme.
Antônio Neto
O filme picker?
Henry Milleo
Isso, o filme picker. Eu comprei um, mas é muito ruim.
Antônio Neto
Cara, isso aí você vai encontrar importando da BH. Encontra um bom. Eu falo que eu sou privilegiado porque você perguntou pra mim dos filmes e aqui no Brasil nós temos bons revendedores de filmes. E a outra coisa muito legal que a rede social trouxe foi que você não vai encontrar bons filmes em grandes lojas não, tá? Você vai encontrar filme no cara que está lá na lojinha virtual dele no Instagram, que nem tem site. Ele vende pelo Instagram mesmo.
Então se você pegar lá o Festival de Filmes Vencidos, o Eric do Foto Retrô, o Cara dos Filmes, o próprio Vitor Leite, que de vez em quando faz um feirão vende 1000 rolos de filme em duas horas. Enfim. Tudo isso você não encontra lojas grandes, igual tinha antigamente. Aquelas lojas de fotografia especializadas, com aquelas prateleiras enormes e tal.
Henry Milleo
Eu acho que a única maior hoje em dia que continua vendendo é a Marinho Store, que é representante da Ilford. Eles vendem. Acho que a Leica Gallery é deles também.
Antônio Neto
Então, não sei se ainda tá. Mas, enfim.
Então esse pessoal aí é que está fazendo um papel muito legal na fotografia analógica.
Outra coisa que me deixa um pouco preocupado são as assistências técnicas, e isso me deixa muito preocupado. Porque nós, volto a dizer: a gente tem insumo, a gente tem quem processa, mas nós estamos perdendo as nossas assistências técnicas. E recentemente, eu acho que a uns seis meses atrás, eu perdi o meu técnico, infelizmente.
Henry Milleo
Aquele lá de São Paulo que você me indicou uma vez?
Antônio Neto
O Célio.
Henry Milleo
Isso, Célio.
Antônio Neto
Ele mesmo. Faleceu há uns seis meses. Já tinha 70 anos. E assim como ele, outros estão mais ou menos na mesma faixa e uma eles vão se aposentar, não vão trabalhar mais e a grande maioria deles não deixaram aprendizes.
Henry Milleo
Pois você sabe que eu perdi o meu técnico, também?
Quer dizer: perdi por dois motivos. Primeiro porque eu não tenho mais câmeras alemães, era um técnico que só trabalhava com máquinas alemãs. Quando eu estava com a Rolleiflex e a Leica, eu mandava direto pra ele. Mas ele teve um derrame também, acho que estava com 70 e poucos anos.
Antônio Neto
Deve ser o Celso. Você deve estar falando do Celso.
Henry Milleo
Isso, o Celso, lá de São Paulo.
Antônio Neto
Eu acho que ele está voltando aos poucos.
Henry Milleo
Que bom.
Antônio Neto
Então, o Célio é da mesma escola dele. Os dois eram amigos, trocavam figurinhas.
Então isso me deixa um pouco preocupado, porque a nova geração eles não sabem. Os novos técnicos hoje, que são excelentes técnicos, mas são técnicos de câmera digital.
Henry Milleo
Mas tem, por exemplo, no Rio Grande do Sul, tem a Phototécnica, que os caras mandam bem em analógico ainda, porque os técnicos deles são antigos. E tem ali em São Paulo o Rogério, da Hit Câmera, que era da Nikon.
Antônio Neto
Sim, sim, sim.
Henry Milleo
Ele também trabalha com analógico, ainda mais da Nikon, mas ainda trabalha.
Antônio Neto
Tem em Piracicaba, se eu não me engano, tem o Flávio Kameda, que foi de quem eu comprei a F100. Ele é técnico também. E ele é relativamente jovem, ele deve ter uns 43, 44 anos também.
Então assim, eu gostaria muito de ver treinamentos, alguma coisa desse tipo. E é aí onde eu falo que precisa de gente abraçar a causa, entendeu?
Henry Milleo
Para finalizar, porque já deu quase duas horas – não, minto. Deu uma hora e vinte…
Antônio Neto
Passa rápido, né?
Henry Milleo
Passa, passa…
Fala sobre o material lá do Parati, sobre o Faces Prateadas. Você fez todo aquelas ampliações que eu vi expostas?
Antônio Neto
Todas minhas.
Henry Milleo
Você ampliou naquele tamanho?
Antônio Neto
Não, não, não, não. Aquilo lá foi o seguinte. Como começou tudo isso.
Henry Milleo
Isso que eu ia te perguntar. De onde veio a ideia e tal?
Antônio Neto
Sim, eu sempre fui um louco, sempre não. Mas de uns cinco anos pra cá eu me entreguei muito aos retratos. Só que eu sempre gostei muito do contato, do retrato, aquela coisa de caçador, sabe?
Mas os meus retratos não são retratos feitos com teleobjetiva, nada disso. Tem alguns bons fotógrafos que eu conheço e em quem eu meio que me inspiro bastante, então eu sempre gostei muito de pendurar uma câmera no pescoço e sair fotografando na rua, retratos eventuais.
E já inúmeras vezes eu estava passando de carro, indo para um compromisso, fazendo alguma coisa, e passo por uma pessoa que está sentada em algum lugar e já penso: olha o retrato ali.
E eu paro o carro, coloco a câmera na mochila, invento uma desculpa qualquer para conversar com essa pessoa pelo menos por uns 10 ou 15 minutos, para aí conseguir tirar dele um retrato.
Tem um projeto, que eu chamo de projeto, mas que é uma série de fotos, porque eu acho que projeto você tem que projetar ele para alguma coisa e isso não tem finalidade nenhuma, a não ser o Instagram que eu fiz e talvez futuramente daqui, sei lá, 20 anos, eu tente algo e aí sim, se torne um projeto, que eu chamei de paisagens humanas, onde eu fotografo retratos de pessoas que eu encontro na rua.
Pessoas com quem eu converso e que se entregam e que se permitem serem fotografados. Mas se permite de verdade, entendeu? Se permite de verdade mesmo. Não é aquela coisa igual eu vejo os instagrammers aí. Oi, tudo bem? Meu nome é fulano, eu queria conversar com você, tirar uma foto… pô, cara. Eu acho isso aí uma ofensa para uma pessoa que quer ser retratada, né?
Inclusive nas oficinas de retrato que eu faço eu falo isso. O que você não deve falar e fazer para uma pessoa, para você ser permitido, para você ter o aval dessa pessoa para fotografar.
O Orlando (Azevedo) fala muito disso. O Orlando foi um professor para mim. Essa coisa da entrega, essa coisa da troca, essa coisa da cumplicidade do retrato.
Henry Milleo
É um diálogo. Um retrato é um diálogo.
Antônio Neto
Então eu tenho as minhas táticas, mas não é daquela forma: oi, meu nome é Neto. Eu queria tirar o seu retrato. Você deixa? Eu acho isso um absurdo.
Então eu vejo: ali tem um retrato. E eu vou lá, vou conversar com essa pessoa. E aí, em algum momento é a hora do retrato, é onde eu vou ter que usar os meus artifícios para convencer.
Geralmente já é a hora que essa pessoa… que eu já vi que ela se entregou para mim, eu já vi que ela já se abriu para mim. É aí onde eu tiro a câmera e falo assim: olha, eu vou te dar, eu queria te dar um presente. Eu não vou te pedir uma foto, eu vou te oferecer uma foto. Você gostaria de ser fotografado?
Mas isso é uma coisa que eu ensino. Você não pede uma foto, você entrega. Você não pede o retrato para pessoa, porque se eu estou pedindo, eu quero para mim. E Esse retrato não é só meu. Então essa é uma coisa que eu sempre falo para os meus retratados.
Você gostaria de um retrato? Você gostaria de uma foto? Você entendeu?
Henry Milleo
Você leva a foto para as pessoas depois? Envia, manda? Você consegue manter essa…
Antônio Neto
Assim. Eu faço uma promessa para todo retratado. Eu falo: sua foto estará comigo sempre que eu estiver fotografando. Se o destino colocar a gente junto de novo, essa foto é sua. Eu não vou pegar teu endereço e falar que eu vou levar a foto…
Obviamente que se eu estiver em um lugar onde eu sei que eu vou voltar depois dessa foto, eu levo para essa pessoa. Já fiz isso inúmeras vezes. No canal mesmo tem vários vídeos eu fazendo isso.
Mas o meu comprometi mento com a pessoa é o seguinte. Você quer o retrato? Quer? Eu não vou prometer pra você que eu vou trazer sua foto aqui na tua casa. Até porque às vezes eu faço isso a 100 quilômetros de distância.
Mas eu vou prometer pra você que essa foto estará sempre comigo. E eu tenho a minha mochila de sair fotografar com pelo menos…. Cara, eu tenho um calhamaço assim…
Henry Milleo
Um calhamaço assim que o Neto está mostrando é uma mão cheia, deve ser uma resma de 500 folhas de A4.
Antônio Neto
Ah, desculpa. Eu calculo umas 300 fotos. Mas eu ando com essas fotos dentro da minha mochila, e está ficando pesado.
Henry Milleo
Tu vai ter que levar uma mochila só para as fotos e uma mochila só pra equipamento.
Antônio Neto
Bem isso. Mas daí eu ando com isso e quando eu saio fotografar essas fotos estão todas comigo. E Inúmeras vezes, cara, incontáveis vezes, eu escuto: Ô, fotógrafo! Lembra de mim? Cara, na hora: opa, lembro sim. Tem até uma foto sua aqui comigo.
Por quê? Porque quando eu pego essas fotos, eu vou passando uma por uma até chegar a foto dessa pessoa. E nisso eu vi 10, 20, 30, 100, 200 retratos antes de chegar na foto. Então eu sei todo mundo que está ali guardadinho. Fotos de gente que eu fiz há três, quatro anos atrás.
E teve uns os fatos muito… Como é que eu vou dizer? Intrigantes. Muito inusitado, de eu fotografar uma pessoa numa cidade, estar em outra cidade e do nada encontrar essa pessoa.
Henry Milleo
É o destino.
Antônio Neto
É uma coisa de falar que não é possível, não é possível. Mas já aconteceu várias vezes. Mas enfim, sempre gostei muito dos retratos. Aí o que aconteceu.
Esse retratos eu sempre fazia na rua, das pessoas. Aí veio a pandemia e eu fiquei mais de um ano sem fazer retratos, porque primeiro as pessoas não queriam conversar com você, as pessoas queriam manter distância de todo mundo.
Segundo, todo mundo estava de máscara. Isso foi muito foda. Tanto que quando voltou, eu dei uma destreinada no negócio. Eu já estava mais tímido, eu já estava mais arredio, eu já não conseguia, eu já estava deixando passar mais oportunidades que normalmente eu não deixaria.
Henry Milleo
Pensava duas vezes antes de chegar…
Antônio Neto
Exato. Mas enfim, como que eu consegui redobrar isso e continuar fazendo os meus retratos? Dentro do estúdio. Só que aí com pessoas convidadas e com clientes meus. E eu sempre tive um interesse muito grande, um fascínio muito grande, pela estética da fotografia do final do século XIX, que era o colóquio, a placa úmida, a wet plate, essas coisas que eu achava uma coisa louca.
E estudando esses processos – era um processo extremamente difícil, com químicos muito tóxicos – mas que eles tinham uma particularidade, que são todos processos onde o filme, o negativo, era uma emulsão ortocromática, uma emulção que, assim como o papel, não é sensível ao vermelho.
E aí eu comecei a estudar e vi que alguns fotógrafos usavam chapas de raio-X nesse tipo de fotografia, principalmente com grande formato, porque o raio-X ele é nada mais é que um filme fotográfico. Só que em vez de ser uma tira, é uma placa quadrada.
E aí eu comecei a estudar, e eu vi que tinha gente fazendo isso com câmera de grande formato. Então, unindo a estética do visual, além da questão do filme ortocromático, que esse é um filme não sensível ao vermelho e isso causa algumas… dá alguma uma estética diferente em tons de pele, em luz, em reverberação e tudo mais.
Além disso, tinha também a questão da estética que a câmera de grande formato nos proporciona, que é uma profundidade de campo muito baixa, que é aquela coisa da lente trazendo algumas características próprias. Então eu vi que eu poderia tentar reproduzir aquela fotografia do final do século XIX com tecnologia recente, relativamente recente, porque chapa de raio-X eu tinha a disposição.
É um filme ortocromático, assim como aquele processo. E a câmera de grande formato eu tenho. Tenho duas câmeras de grande formato, inclusive. Então eu vou começar a fazer isso dentro do estúdio.
Aí as pessoas vinham para ser fotografadas, para retrato de família, retrato corporativo, alguns trabalhos pontuais, e eu falava: olha, vou te fazer um convite para você posar para mim. É uma foto diferente. Uma foto que vai ser minha, vai ser sua. Só que vai ser totalmente diferente do que você veio fazer aqui.
Então eu não precisava mais usar aquelas artimanhas que eu usava lá fora. Então eu descobri uma nova maneira de conseguir belas imagens resolvendo o meu problema, os meus anseios de querer fazer fotos parecidas com as do final do século XIX, e dentro do meu estúdio, com ar condicionado ligado e tudo mais.
Foi aí onde eu fiz a primeira vez, deu certo, segunda vez deu certo e comecei a fazer e fui juntando uma série de retratos. E chegou ao ponto que eu pensei: olha isso aqui dá isso aqui dá alguma coisa isso daqui dá uma série.
Henry Milleo
A série que você mandou lá para o Paraty em Foco.
E são quantos retratos?
Antônio Neto
No total eu mandei dez retratos. Até hoje eu acho que eu já somei mais ou menos uns, já deve estar perto de 100. A minha intenção era fazer 100. A hora que eu fizesse 100 eu ia parar. Eu acho que eu estou próximo disso. Mas eu acho que eu vou não parar, mas eu vou mudar alguma coisa. Fotografar, sei lá, pessoas de corpo inteiro, começar a fotografar duas pessoas, família, levar a câmera para a rua. Porque até então eu só fotografo dentro do estúdio.
Henry Milleo
E para onde vai isso agora?
Antônio Neto
Então cara, eu sou uma pessoa muito preguiçosa, eu tenho muita preguiça de ficar revendo material antigo, eu não gosto disso. Eu fico meio bravo aqui com uns amigos meus de foto clube que passa dois, três anos e eles estão mandando as mesmas fotos que eles mandaram para a Bienal do ano passado, dois anos depois a mesma foto para um salão internacional, depois mandam para um festival de foto. Já deu.
Então, eu não sou desses de ficar revirando arquivo passado, não. Eu penso sempre daqui para frente.
Henry Milleo
Mas você tem uma amostra muito pequena. Você tem 100 retratos, mas você tem só dez que foram para final num festival importante. Mas o todo vai virar mais alguma coisa?
Antônio Neto
Basicamente ele está naquilo que foi o mais fácil para mim, que é fazer o Instagram e colocar tudo lá porque, querendo ou não, se você quer serviço, você tem que estar lá. Não adianta você ter um bom site. As pessoas querem ver aquilo lá, é mais fácil. Eu, além dessa questão minha de que eu não me sinto bem – não é que eu não me sinto. Hoje eu olho as minhas fotos antigas e eu penso: eu tenho foto boa pra cacete aqui. Mas eu quero fazer coisas novas, entendeu? Eu quero sempre… Para mim o tesão da fotografia é fotografar.
Henry Milleo
A Vivian que o diga. Ela provou isso, que o tesão era fotografar, não revelar.
Antônio Neto
Exato. Inspiração.
Então essas coisas mais antigas, eu falo: pô, legal, exposição ok, festival ok, livro… O meu sonho é ter um livro meu. Meu sonho é ter um livro meu. Mas aí você vai cair naquela coisa de sentar para escrever projeto, depois ter a parte do prefácio, aquela parte chata, curadoria…
Quer saber? Não vou mexer com isso. Então, os meus anseios com o meu material autoral não é nada para agora. Eu quero pegar esse material – faces prateadas, paisagens humanas… Cara, eu devo ter aqui. Eu não faço ideia do volume de material autoral que eu tenho do norte do Paraná inteiro. Zona rural, casinha de não sei o que, retrato, árvore, paisagem, patrimônio cultural, patrimônio natural, patrimônio humano, muita coisa.
Esse nortão aqui, pé vermelho, eu tenho registrado muita coisa. Isso aqui é coisa que eu vou parar para mexer mesmo, por iniciativa minha, daqui 20 anos. Agora, se entram em contato: Neto, eu sou editor. Faz o seguinte, me dá o HD com tudo o que você tem de faces prateadas – porque tá tudo digitalizado também – aqui dá um livro. Vamos escrever um projeto juntos. Eu faço a curadoria, eu faço o projeto, você assina… tipo esse é o meu empregado.
Aí beleza, aí eu faço. Mas eu não tenho saco e nem tempo de parar e mexer nisso agora. Sabe porque, Milleo? Eu tenho boleto pra pagar.
Henry Milleo
Os boletos para pagar sempre atrapalham a fotografia.
Antônio Neto
Então hoje a minha prioridade são os meus boletos e o meu estúdio. Os meus clientes. Porque eu sou fotógrafo. Quem ouviu eu falar até agora ouviu toda aquela minha relação da fotografia, aquela coisa piegas pra caramba. Mas esse é o lado gostoso.
Só que esse lado gostoso não paga boleto, cara, infelizmente. Você sabe disso. O que paga meus boletos é o aniversário infantil que tem aquela criança chata que fica xingando você. É a noiva que está lá: Neto, cadê meu álbum? Neto, não sei o quê. É a gestante que vai lá no estúdio levar cachorro. Gestante que vai fotografar é leva três, quatro, cachorros, que passam no fio e derrubam minha câmera.
Você entendeu? É isso que eu tenho que dar prioridade agora, porque é isso que me dá grana, cara. Porque por muito tempo, e isso também é uma coisa que só depois de muito tempo você vivendo de fotografia que você se toca, que esse papinho bonito, piegas e filosófico de fotografia é muito bom pra gente conversar aqui no podcast.
Henry Milleo
Sim
Antônio Neto
É lindo.
Henry Milleo
Eu defendo que o fotógrafo deve fotografar pelo espírito, por curtir, por gostar, por estar fotografando. Mas é claro que existe a fotografia comercial. Se eu fosse escolher só o que eu quero fotografar, eu não fazia. 99% dos trabalhos que eu faço. Eu não ia fazer.
Antônio Neto
Exatamente. Eu queria viver de faces prateadas. Eu queria que alguém me ligasse: Antônio, você foi premiado lá em Paraty com esses retratos lindos. Quanto você cobra para fazer um retrato meu nesse estilo? Mas isso não acontece, cara.
Henry Milleo
Eu queria ser o Ansel Adams, mas eu não consigo.
Antônio Neto
Então, hoje a minha prioridade não é autoral. Hoje a minha prioridade não é o canal Câmera Velha, infelizmente. É aquilo que está me pagando. E que graças a Deus, não está faltando. Eu tenho muito trabalho.
É o fato de eu ser um fotógrafo bem versátil, assim como a revista Fotografe Melhor colocou lá, falando sobre o meu trabalho, que não é só sobre o faces prateadas, que é justamente essa essa questão do autoral.
Você, fotógrafo, conseguir levar junto e conciliar as duas coisas. E eu acho que eu sou um dos poucos que consegue fazer isso sem reclamar e sem surtar, porque eu gosto. E não adianta, eu não escolho só um. Eu continuo fazendo os dois. Mas hoje a minha prioridade é isso. Eu faço o meu autoral nas horas que dá, mas não deixo de fazer
Porque é uma coisa que eu também falo, que o autoral influencia demais no seu profissional, e tem que ter o equilíbrio.
Henry Milleo
A vida é feita de equilíbrio.
Antônio Neto
Às vezes eu não tenho tanto equilíbrio, porque a fotografia toma tanto tempo de mim que eu teria que ter um tempo para também não pensar em fotografia, para pensar em sair com a minha filha ou levar minha mulher para viajar.
E então é isso. Cara, o Orlando fala uma coisa: é muito mais fácil você ser um juiz, às vezes ganhar, sei lá, 30, 40, pau por mês. É muito mais fácil ser um juiz. A fotografia cobra você de mais. A fotografia cobra e te ilude demais. É uma ilusão deliciosa? É deliciosa, é maravilhoso você sonhar com a fotografia, e pensar: a fotografia me escolheu. É maravilhoso!
Isso é uma coisa que eu não trocaria… Cara, eu tenho doutorado. Eu estudei dez anos para ser uma coisa que eu não fui, que eu abandonei pela fotografia. Olha o quanto ela me cobrou, olha o preço que eu paguei por ser apaixonado por essa profissão. Olha o preço que eu paguei.
Sem contar os conflitos conjugais, com os meus pais, que pagaram…
Henry Milleo
Que achavam que estavam criando um biólogo.
Antônio Neto
Achando que estavam criando um pesquisador cientista, quando na verdade de uma hora para outra foi:? Olha, pai. Vou virar fotógrafo.
Para minha esposa. Eu estava recém casado e quando eu me casei, deu um ano depois, eu terminei o doutorado. E falei: não.
Agora você está entendendo? Então ela cobra demais. Quantos fotógrafos se separam? Por que? Porque o fotógrafo não domingo, não tem feriado. Ele quer estar no campo de batalha. Então se você pegar o meu caso. Minha esposa sai para trabalhar de manhã, ela vai para um lado, eu vou para outro, a gente só se vê a noite. Chega no final de semana ela fica em casa e eu vou para os eventos, entendeu?
Você não tem contato com a tua família, você tem pouco contato com a família. Hoje eu consigo, graças a Deus, pelo fato de eu estar já nesse mercado há muito tempo e ter feito uma carta de clientes legal, hoje eu posso escolher se eu trabalho nesse domingo, daqui um mês, que geralmente os nossos pedidos de orçamento eles chegam com 30 dias de antecedência.
Então nesse dia esse trabalho não vou pegar. Daqui um mês eu vou reservar esse dia pra minha família, ou para o aniversário do meu pai, ou para ir viajar, ou pra ir fotografar pra mim. Mas é isso.
Henry Milleo
Nesse dia eu tenho que fazer um retrato lá em Rolândia…
Antônio Neto
É. Exato
Henry Milleo
Mas beleza, Neto. Muito obrigado pelo bate-papo. Obrigado mesmo.
Antônio Neto
O prazer foi meu. Eu espero que quem tenha ouvido tenha entendido os meus pontos de vista. Eu não sou uma uma pessoa muito difícil de lidar. Tenho às vezes alguns pontos de vista, mas tudo isso que eu falo, cara, é pela experiência. Você faz isso há 30 anos, eu faço isso há uns 20 anos, pelo menos também, então a nossa experiência faz com que nós tenhamos opiniões bem incisivas. E às vezes uma pessoa que começou ontem não entende isso e vai entender o que eu estou falando daqui um tempão.
Mas eu agradeço também aí pelo convite, foi um prazer enorme e sempre que precisar a gente está à disposição.
Henry Milleo
As portas aqui estão sempre abertas e eu vou deixar para o pessoal aqui na descrição do episódio e também no site do Arquivo Raw, as redes do Neto para vocês conhecerem e também o canal e o Instagram do Câmera Velha.
Então confiram lá que é bem bacana. O que você quiser saber sobre fotografia analógica para começar ou se aprofundar, com certeza você vai encontrar lá. E se não encontrar, manda uma mensagem para o Neto, que ele logo produz alguma coisa sobre isso.
Então é isso pessoal, muito obrigado de novo, Neto.
Fiquem bem. Até a próxima. Ciao!
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