A fotografia social
Durante o século XX a fotografia já era usada para documentar eventos cruciais que mudavam a sociedade como guerras, catástrofes, política e economia, entre outros assuntos. Nesse seu início documental ela era mais uma ilustração do fato, um single shot da história.
Mas em algum momento os fotógrafos perceberam que a câmera poderia ser uma ferramenta de mudança social maior, usando a fotografia para mostrar injustiças, desigualdades e a realidade das parcelas marginalizadas da sociedade.
Projetos de fotografia social
Aqui alguns exemplos de projetos de fotografia social aliada à fotografia documental e ao fotojornalismo.
Elogiemos os homens ilustres
Em 1936 o jornalista James Agee e o fotógrafo Walker Evans percorreram o Alabama acompanhando a vida das famílias pobres americanas que ainda sofriam com os efeitos da Grande Depressão.
O material foi recusado pela revista que encomendou o trabalho por não se encaixar nos padrões de redação jornalística da época, mas o trabalho foi lançado em livro, em 1941 e tornou-se um clássico do jornalismo e da reportagem fotográfica. As fotos de Evans, que abrem o livro, funcionam como o início impactante de um filme mudo, traduzindo e ampliando o impacto que o texto vai causar.
Too Young to Wed (muito jovem para casar)
Desde 2011 a fotógrafa Stephanie Sinclair percorre lugares no mundo onde jovens mulheres são obrigadas a casar muito cedo. Meninas de 12, 13, 14 anos se tornando esposas e mães em culturas onde uma criança de 12 anos é dada pela família como esposa para homens de 30, 40, 50 anos.
O trabalho dela foi publicado em veículos como The New York Times e National Geographic e ela mergulhou tão fundo no assunto que criou uma Organização independente que luta contra esses casamentos forçados.
A série de coberturas que Sinclair fez do tema trouxe tanta luz para esse assunto que o Comitê para o Direito das Crianças, da Organização das Nações Unidas, tomou para si a responsabilidade de ajudar na preservação do direito à infância dessas meninas, intervindo junto com a organização da fotógrafa para impedir casamentos ao redor do mundo e conscientizar as populações sobre essa prática.
Where Love is Illegal (onde o amor é ilegal)
O britânico Robin Hammond é outro fotógrafo que criou uma organização independente a partir de seu trabalho com a fotografia documental social.
Desde 2015 Hammond percorre países no mundo onde a população LGBT é criminalizada (em alguns casos punida com sentença de morte) e faz retrato dessas pessoas, além de colher depoimentos em vídeo para construir a narrativa do trabalho.
Esse material documental também foi publicado em grandes revistas, como a National Geographic e a The New Yorker, e levantou uma discussão sobre a liberdade de gênero das pessoas em países com legislação homofobica.
Henry Milleo
Fotógrafo
Editor de Fotografia
Criador do Podcast Arquivo Raw
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