Como criar uma boa fotografia?
Provavelmente essa é a pergunta que os fotógrafos mais fazem.
Mas para responder a ela, é preciso dar um passo atrás e responder primeiro a outra questão: o que é uma boa fotografia?
Claro que essa é uma questão relativa, porque o que pode ser uma boa foto para você, pode não ser para outro. Mas para esse texto aqui, vamos partir do pressuposto de uma imagem que visualmente te agrade.
Para mim uma boa fotografia é aquela fotografia que contém um pouco do fotógrafo, que traz a visão que o profissional teve de um cenário, acontecimento ou personagem. E que contenha informação suficiente para que ela seja entendida pelos leitores.
Passos para criar uma boa fotografia
Eu divido a criação de uma boa fotografia em dois elementos. O primeiro, que é o técnico, e o segundo – que eu considero o mais importante para criar uma boa fotografia – que eu chamo de linguagem fotográfica.
Dois elementos que podem ser acessados por estudo e observação.
A técnica
A parte técnica do caminho para criar uma boa fotografia é a parte do estudo. Conhecer não só o equipamento, mas os passos necessários para colocá-la em prática, que se dividem, basicamente, em três: luz, objeto a ser fotografado e composição.
Luz
Como o nome de origem grega já diz (foto = luz + grafia = escrever), a luz é essencial para uma boa fotografia. Saber equilibrar áreas de maior ou menor incidência de luz é o primeiro passo para criar uma imagem potente.
É possível, inclusive, criar composições de cena com maior ou menor destaque para diferentes elementos apenas trabalhando a quantidade de luz e sombra que a imagem vai ter.
Objeto a ser fotografado
Definir qual vai ser o ponto central de criação da sua fotografia é imprescindível para criação de uma boa composição e, consequentemente, uma boa imagem.
Na maioria das vezes isso é definido pelo foco. Em uma paisagem o foco em uma árvore ou em uma montanha traz mais nitidez para aquele ponto da cena e automaticamente cria um destaque para aquele elemento. Já em um retrato de quadro cheio, o foco nos olhos da personagem cria um diálogo maior com o leitor da fotografia.
Composição
Resumidamente, composição na fotografia é a tarefa de organizar tudo o que está na sua frente em uma única imagem.
Existem algumas regras que ajudam nisso, criando um norte para essa organização e para a forma de enxergar a cena. Como a regra de terços, linhas guias, molduras e relação figura fundo – eu cito algumas (com exemplos) no texto que está nesse link.
A linguagem
O segundo elemento – aquele que eu disse que considero o mais importante – é a linguagem fotográfica. Essa é a parte que precisa da observação constante.
Essa linguagem é acessada através das referências que você tem. Todo o conhecimento (visual ou não) que você absorveu durante a sua vida.
Os livros que leu, as músicas que ouviu, os filmes e fotografias que viu, as peças de teatro, as notícias, enfim, tudo.
Por exemplo, como eu disse no episódio 19, no bate papo com o fotógrafo Armando Vernaglia Jr., quando eu vou a uma cidade pequena e pitoresca, sempre me lembro do livro Cem Anos de Solidão, do genial Gabriel Garcia Márquez. Essa é uma referência muito forte na minha bagagem, porque a narrativa do livro para mim foi impressionante na questão de construir história, cenário e personagens.
Da mesma forma que quando vou fotografar em uma favela isso me remete ao livro Quarto de Despejo, da também genial Carolina Maria de Jesus, ou mesmo da descrição de vida nessas comunidades que ouvi em músicas, sambas, raps e hip-hop, ou em notícias com diferentes abordagens, ou mesmo em conversas com amigos e pessoas dessas localidades.
Isso tudo são referências. São as coisas que constroem o indivíduo que você é. Algumas mais claras e objetivas e outras mais interiorizadas, mais subjetivas. Referências que vieram das inúmeras experiências (boas ou ruins) que você teve em sua vida.
A grande sacada nesse momento é aprender a usar isso para criar uma boa fotografia. Saber aliar técnica ao que você enxerga e sente no momento da captura de uma imagem é o que vai te deixar mais próximo de compor uma boa fotografia.
Mas não se preocupe, existem alguns exercícios simples que você pode colocar em prática para começar a entender esse processo.
Relação direta
O primeiro exercício para começar a entender e utilizar essas referências que você tem é fotografar coisas, lugares e pessoas com os quais você tem uma relação direta.
Busque lugares que você conhece. Pode ser a casa de seus pais, seu avós ou mesmo a sua própria casa. Encontre elementos nesse lugar que tenham essa relação com quem você é e estude a melhor forma de fotografá-los.
Outros lugares também podem ser interessantes, como uma rua, um colégio onde estudou, ou um local que foi importante para você.
Outro bom exercício é fazer retratos de pessoas importantes na sua vida, como seus pais, avós, tios, primos, irmãos, amigos. Lembre que você conhece essas pessoas, então tente capturar quem elas são ou representam.
Relação indireta
Esse exercício se baseia em referências externas e um dos exercícios mais simples é pegar algo que você viu, leu ou ouviu e tentar incorporar isso em sua fotografia.
Por exemplo: um livro que descreva um cenário ou uma sensação. Pegue esse cenário e a sensação ambiente que você teve quando leu a história e tente recriar isso.
Abuse da criatividade, crie a luz que você imagina para aquele quadro e tente recriar isso visualmente. Esse é um processo de tentativas, então não tenha medo de experimentar, improvisar e mesmo mudar tudo se achar necessário.
Com o tempo você vai conseguir incluir esses elementos da sua bagagem na forma como você vê o mundo e os lugares e isso vai se tornar uma tarefa corriqueira na sua fotografia, então pegue a sua câmera, aguce seus sentidos e vá em frente. Fotografia é mostrar o mundo, mas mostrar o mundo da forma como você o vê.
Henry Milleo
Fotógrafo
Editor de Fotografia
Criador do Podcast Arquivo Raw
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